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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

aFinitude



Estes dias me dei conta que o amor e o tempo são as mais importantes linhas que erguem cada uma das partes de nossos membros de marionete. Essas linhas determinam se nossos ombros estarão levantados, e se os cantos de nossas bocas estarão erguidos formando covinhas.

O movimento circular dos ponteiros pode ser um martírio em momentos entediantes, que podem ser palestras de pseudo-sabichões, ou até mesmo ações repetitivas de uma linha de produção capitalista. Desejamos que o mundo real torne-se ficção só para que possamos apertar o botão do controle remoto, de modo que tudo passe mais rápido e cheguemos logo ao fim.

Mas que fim?

Para alguns, o fim de um momento entediante pode acontecer com a chegada de algo – ou alguém – que possa gerar um pouco de satisfação, alegria, felicidade. Nessas horas quebramos o relógio. Queremos que os limites dos horários voem pelos ares. E a linha do amor nos ergue a um plano maior, onde podemos ser aquilo que queremos sonhar com o que desejamos.

Mas antes que alcancemos nosso nirvana, eis que o despertador toca.

Se não bastassem criar amarras para nos prenderem aos relógios, ainda colocaram um alarme para que não possamos nos livrar de sua existência!

E diante da sirene assustadora, caímos de volta à existência sistemática. É a vez de a outra linha nos guiar ao cotidiano, ao rotineiro.

Muitos devem se questionar: por quê? Por que se prender ao tempo? Ora, porque não somos para sempre. Porque, uma hora, o tempo acaba não é mesmo?

Não!

O tempo nunca acaba. Nós é que delimitamos o tempo. O enclausuramos em nossos relógios e agendas, tornando-o mais finito do que nós mesmos. E junto a ele, delimitamos nossos sonhos e nossas vidas.

Não seriamos mais felizes se simplesmente... vivêssemos?

Afinal de contas, como já diria o poeta: “que seja eterno enquanto dure”...



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Doença antídota

Desde os mais longínquos tempos que minha memória pode alcançar
Idealizei uma figura fabulosa e indefinida
Que protagonizaria momentos diversos de minha vida.
Tão forte foi o desejo de que o incrível se tornasse real
Que quando menos esperava, eis que ele me surgiu.

Tão logo pude confirmar sua veracidade,
Temi me tornar submissa e vulnerável.
Relutei contra o magnetismo assombroso que me fazia ansiar desesperadamente por sua presença.
Fugi de todos os caminhos cujo destino fosse encontrá-lo, embora soubesse que era nos atalhos onde ele me esperava.
Sorrindo.
Tentei dispersar de meus pensamentos a constante imagem de sua face,
Mas o vento me trazia sua voz, o ar me trazia seu cheiro,
E a todo instante sua presença estava cada vez mais enraizada em mim.

De súbito me vi prisioneira,
Acorrentada a um elo tão invisível quanto rígido,
Tão inexistente quanto inexplicável.
Busquei formas de me convencer do quanto esta prisão me entorpecia.
Mas este entorpecimento me inebriava.
Aos poucos me dei conta de que este ópio sedutor que me causava devaneios
Era o mesmo que me corroia nas noites mais escuras e frias,
Quando a solidão e o silencio me faziam lembrar minha condição vassala,
Própria daquele que se doa sem pedir recompensa,
Que se contenta com a esmola de um pequeno gesto ou sorriso.

Se não bastasse o sofrimento causado pelo confinamento,
Ver-te a despejar encantos em outros vasos, em outras docas,
Fazia-me desejar que todo o mar secasse
Só para que o fluido de seus olhos seguisse para minha própria foz.

Mas jamais tive intento de lhe revelar.
O orgulho comprimia-me a garganta,
A voz pendia entre os lábios, sem deixar as palavras saírem.
Tive medo, me contive.

E por isso, o perdi.

Passado o tempo, notei que o elo se tornara um fino fio de cobre,
Resistente, maleável.
Decidi que era o momento de o quebrar,
De me livrar de todo o tormento que me prendia a uma ilusão.

Foi quando notei que a angústia de jamais se libertar
Era insignificante perto do medo de perdê-lo.

Vi-me novamente presa, acorrentada,
Ansiando por uma forma de curar todas as moléstias causadas por esta doença antídota
Singular, centenária, vital.
O amor?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Antinércia

Você já parou para pensar qual o sentido da sua vida?

Muitas pessoas com quem convivo vivem por inércia. Muitas vezes já tive que me dar safanões por quase me contaminar por essa maldita praga da passividade, que nos leva do nada para lugar algum.

Quando crianças somos condicionados a nos adaptar às condições impostas pela sociedade. Aprendemos que é bom comer verduras, que quem vai para a escola é bonzinho, e que crianças educadas ganham presente do Papai Noel no final do ano.

Mas com o passar dos anos... Somos obrigados a tomar conta de nossas vidas. Temos que tomar nossas próprias decisões, e as consequencias de nossos atos serão de responsabilidade nossa.

Mas e o medo de tudo dar errado? E o medo de sermos discriminados? Eis que somos levados por inércia, seguindo tudo o que nos foi ensinado que é certo e perfeito, sem criar nossas próprias concepções do que é melhor para nós mesmos.

Quem contesta que temos que fazer faculdade, porque uma pessoa graduada tem mais "chances" do que um jovem que trabalha no campo? Quem contesta que é possível ser feliz sem ser poliglota?

Ora, não que eu não goste de fazer faculdade. Gosto de aprender sim senhor - e muitos podem me abominar por isso. Tenho uma vontade imensa de dominar outras línguas!

Mas qual o sentido de ir a faculdade? Qual o sentido de fazer um curso de inglês?

Nos últimos dias, tenho notado que é cada vez maior o número de pessoas que não saberia responder a nenhuma das perguntas acima. Dezenas (para não dizerem que sou exagerada, nem coloco milhares) de pessoas vão a faculdade, fazem cursos, trabalham, dormem e acordam...vivem por viver. Sem um objetivo, sem um destino, sem um foco. Para não se sentirem acuadas, muitas dizem que fazem isso ou aquilo por dinheiro.

Será que o sentido da sua vida é o dinheiro também?

Para desencargo de consciência, reflita: e se tudo - tudo mesmo - acabasse, e só o que restasse fosse a sua conta bancária, ou o seu cofre em formato de porquinho. O que exatamente você faria em seguida? Brincaria de cara ou coroa com as moedas, ou faria origamis com as notas?

Existem pessoas que acreditam que o sentido de sua vida é o time de futebol.

Assisti a final do Paulista este ano. Me chamou a atenção um torcedor concentrado, que entoava a plenos pulmões que "vivia pelo time". CÉUS, e se o time, por alguma razão obscura, deixasse de existir? Claro que um time tão grande e com uma torcida tão fiel é praticamente eterno. Mas o Barueri, por exemplo...(ver em http://www.abril.com.br/noticias/esportes/futebol/barueri/oficialmente-barueri-deixa-existir-nasce-gremio-prudente-929787.shtml)

Existem pessoas que acreditam que o sentido de sua vida é outra pessoa.

Apaixonados, iludidos, enamorados. De modo geral, estes sofrem mais. Ao contrário do time de futebol eterno, eles sabem que a qualquer momento podem perder a razão de suas vidas.

Existem pessoas que acreditam que o sentido da vida é a religião.

Neste caso, o fanatismo acaba sendo uma consequencia. É uma pena que muitas vezes essas pessoas acabem vítimas de exploradores (àqueles, cujo sentido da vida é o dinheiro).

Eu poderia passar horas e horas, escrevendo linhas e linahs sobre diferentes estilos. Mas deixei por último aqueles com os quais me identifico mais, e que mais admiro.

Existem pessoas cujo sentido da vida é mudá-la, por meio de ideais.

São pessoas que não se apoiam em uma única base de sustentação, mas que tentam a cada dia construir novas maneiras de modificar a realidade alienada imposta pela sociedade. Pessoas que criam sonhos coletivos, utópicos talvez, mas que podem trazer bons resultados no futuro.

Essas pessoas, claro, não vivem por inércia. Elas regulam a intensidade das ações de acordo com a necessidade de cada situação, e buscam alcançar o bem comum.

Você é uma delas, pretende ser, ou quer passar o resto da vida se arrependendo pelo que deveria ter feito?

sábado, 23 de abril de 2011

Lidando com não-mocinhos

Há alguns anos venho fomentando uma crítica muito particular a respeito da pena de morte, mas até então minha unica fonte de informações era um filme, que mesmo após alguns anos ainda me faz refletir.

Era uma sexta feira, e possivelmente já passava das onze horas da noite. Deitei em minha cama e resolvi ligar a televisão. O filme já havia começado, mas mesmo assim as cenas prenderam minha atenção. "Os últimos passos de um homem" - (Dead Man Walking/1995) narra a história de Matthew Poncelet, brilhantemente interpretado por Sean Penn. O título sugestivo talvez faça pensar que a história é sobre algum bom homem, injustiçado por algum vilão malvado.

E é justamente o fato de a história não ser tão previsivel que a torna tão cativante.

Sempre defendi a ideia de que não existem essas caricaturas de vilões e mocinhos, e que todos estamos sempre sujeitos as mais indignas sensações. Não sou nenhuma defensora de criminosos, mas creio que nenhum ser humano é passível de fraquezas e defeitos.

Matthew Poncelet se vê prestes a ser executado com uma injeção letal, acusado por ter assassinado dois adolescentes. Sua última e desesperada tentativa é conseguir a ajuda da freira Helen Prejean, interpretada pela atriz Susan Sarandon.

Helen Prejean nasceu em Baton Rouge, em 21 de abril de 1939, e é uma freira católica estadunidense. O filme é baseado em fatos reais, já que a freira trocou correspondências com Elmo Patrick Sonnier, sentenciado à cadeira elétrica por assassinato.

Após vivenciar de perto diversas histórias, de diversos homens que contavam os últimos momentos de suas vidas, Helen se tornou uma ativista contra a pena de morte e fundou a organização não-governamental Survive.

Até assistir o filme, eu particularmente nunca havia refletido sobre este assunto. Talvez porque no Brasil sejamos contemplados com uma Constituição que defende o direito a vida.

Não defendo a não punição, ou a imparcialidade. Tenho consciência de que pessoas que agridem, que roubam ou que cometem outros tipos de delitos devam se afastar do convívio social - mas seria a morte a solução dos problemas? Que tipo de vantagem isso traria para nossa sociedade?

Se tomarmos como base um sistema corrupto, onde os detidos são isolados em meios que estimulam ainda mais os piores instintos que possuem ou que simplesmente os ignoram, sem oferecer uma maneira de se recuperarem e se tornarem pessoas produtivas para sua comunidade... realmente, a pena de morte se mostra como uma solução plausível para o corte de gastos públicos, para a "eliminação do mal pela raiz".

Mas e se tomarmos como base um sistema eficiente, onde os detidos tenham acompanhamento psicológico, educacional e, porque não, religioso? Onde eles possam, ao invés de se tornarem gastos públicos, trabalharem e produzirem bens?

Pode parecer utópico. Claro, infelizmente ainda estamos presos àquele sistema corrupto e, porque não, fácil. Ora, é muito mais fácil manter tudo como está, e simplesmente deixar que a cada dia mais pessoas sejam presas, e soltas, e presas novamente.

Quantas "passagens" pela prisão uma pessoa tem que ter, até que o Estado perceba que esta não é a melhor maneira de lidar com pessoas?

Para ajudar a questionar a respeito deste tema, tive o prazer de assistir a peça "Doze homens e uma sentença", que também aborda o assunto sobre parâmetros diferentes dos quais estamos acostumados a lidar.

Aqueles que estiverem dispostos, aceito argumentos que me façam mudar de ideia...

domingo, 13 de março de 2011

Álbum de figurinhas

Ao longo da minha vida tenho criado várias teorias, e costumo compartilha-las com os mais próximos. Uma delas é sobre o Álbum de Figurinhas.

Adoro analogias e metáforas, e esta é particularmente uma das minhas favoritas.

Quando criança, eu adorava figurinhas e, consequentemente, seus respectivos álbuns. Tive álbuns diversos - Rei Leão, Pokemón, Copa do Mundo... - mas creio que nunca completei nenhum deles. Isso nunca me frustrou, porque sempre havia um novo álbum a ser completado, e rapidamente eu esquecia o antigo. Às vezes o encontrava no fundo de uma gaveta velha, folheava suas páginas, e guardava em seguida.

Infelizmente, minha vida costuma ser semelhante ao Álbum de figurinhas.

Sempre acreditei que as pessoas fossem insubstituíveis, assim como as figurinhas.

Quando as conquistamos e colocamos em seu espaço reservado, as contemplamos e nos orgulhamos de tê-las ali. Exibimos aos outros, esperando ouvir elogios. Claro, damos atenção privilegiada às especiais - aquelas que foram obtidas com maior dificuldade, nem sempre as mais bonitas... - e nos enfadamos com as repetidas. Trocamos. Destrocamos. Mas nunca pelas mesmas, porque apesar de parecidas, elas não são efetivamente iguais.

Por fim, trocamos de álbum.

Sempre tive dificuldade em manter mais de um álbum; ou concentrava todos os meus esforços em manter um, ou não tinha nenhum. Infelizmente, meu ciclo de amizades também era assim.

Admirava aqueles que conseguiam manter contato com pessoas durante tanto tempo seguido! Eventualmente, eu conseguia entrar em contato com amigos distantes - mas em seguida, eles desapareciam outra vez! Como uma rápida folheada em álbum antigos, para matar a saudade...

Por mais difícil que seja admitir a metáfora, ela existe: sim, eu crio Álbuns de Figurinhas. Gostaria muito de tê-los completado, de admirar minhas figurinhas com mais frequência... Mas é tão difícil!

Agora estou montando um novo Álbum. Ao longo do tempo, aperfeiçoei minhas técnicas. Estou tentando mantê-lo vivo, e não pretendo deixar que o tempo o faça perder sua importância. Se possível, trarei algumas figurinhas antigas para colar nele...


sábado, 26 de fevereiro de 2011

Momento (raro) de poesia

Em meio as mais densas nebulosas da minha vida, eis que surgiu, de repente, um lampejo de luz: a princípio, duvidei e fugi, temendo que o clarão pudesse me cegar. Mas o calor trazido com a luz era forte e atrativo, e me rendi aos encantos daquela novidade. Confesso que por vezes me queimei, mas o medo de perder o acolhedor calor daquela luz me fazia suportar os momentos de dor. Por vezes temi que a luz se apagasse, e a ela me agarrava fortemente. Mas eis que um dia não pude evitar... e ela se foi. A nebulosa voltou, mas não tão densa quanto antes, já que o calor ainda permaneceu pairando no tempo. Outros lampejos apareceram, mas não tão intensos quanto o primeiro. Descobri que seria difícil me acostumar a sua ausência... mas não impossível. E aos poucos, comecei a descobrir minha própria luz, que se mostrou forte e duradoura... e que me permitiu proseguir...