tag:blogger.com,1999:blog-19157049079270240652024-03-13T05:23:44.119-03:00AngélicaArtigos, histórias e opiniões!
Let's talk about it!Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.comBlogger23125tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-36713223213205508012016-02-22T21:53:00.000-03:002016-02-22T21:53:47.747-03:00PirâmideSó mais uma pedra.<br />
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Era isso que ele repetia para si mesmo, mentalmente. Embora todo aquele barulho ensurdecedor da obra impossibilitasse qualquer tentativa de comunicação por voz, não havia porquê arriscar compartilhar suas angústias com ninguém.<br />
<br />
Não havia qualquer referência de tempo que pudesse assegurar quanto ele já havia trabalhado ou dar-lhe o mínimo de esperança de que o fim estava próximo. Não que ele soubesse o que faria depois - talvez, muito provavelmente, mais uma pirâmide -, mas de alguma forma haveria certo conforto em poder considerar que em um dado momento ele não precisaria mais repetir todos aqueles movimentos que pareciam destruir seu corpo todos os dias.<br />
<br />
Só mais uma pedra.<br />
<br />
Ele não fazia ideia de porque estava construindo aquilo. Pelas faces suadas dos demais ao seu redor, nenhum dos que estavam com uma pedra na mão pareciam saber qual a finalidade da pirâmide. Os que seguravam chicotes no lugar de pedras, minoria, pareciam ter algo diferente no olhar. Não havia nenhum indício de que soubessem qual o propósito da obra, mas certamente algo os motivava para que estivessem ali.<br />
<br />
O sol já estava próximo ao horizonte quando um súbito silêncio indicou o que parecia ser improvável: o Soberano se aproximava. Por alguma razão inexplicável, excepcionalmente aquele dia ele havia decidido visitar a obra incompleta. Conforme o Soberano caminhava por entre os trabalhadores, seus corpos se curvavam e o reverenciavam.<br />
<br />
Só mais uma pedra.<br />
<br />
Apenas alguns passos o separavam do Soberano. Era a primeira vez que o via tão de perto. Mas antes que pudesse se mover para curvar-se diante do homem, um estalo em suas costas o impediu de seguir. Sem se controlar, urrou de dor.<br />
<br />
Seus olhos esbugalhados se encontraram com o do Soberano, que o fitava com desprezo. Ninguém havia se movido.<br />
<br />
- Só mais um escravo.<br />
<br />
Foi tudo o que ele ouviu o Soberano dizer antes que a pedra o acertasse e tudo se tornasse escuridão.<br />
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<br />Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-8631964365297809222015-02-07T16:26:00.001-02:002015-02-07T16:26:22.821-02:00Fluidez<div dir="ltr" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.6888885498047px;">
Era o fundo do mar.</div>
<div dir="ltr" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.6888885498047px;">
<br />Indecifrável, preenchido pelo silêncio de seu abandono.<br />Via-se restos de um navio naufragado, há tempos já esquecido.</div>
<div dir="ltr" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.6888885498047px;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.6888885498047px;">
A Âncora surgiu de repente, atravessou um mar de incertezas e mistérios rumo a um solo arenoso que talvez não lhe sustentasse... Fez-se uma nuvem de poeira quando ela fincou-se no solo.</div>
<div dir="ltr" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.6888885498047px;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.6888885498047px;">
As águas se moveram ruidosas e provocaram ondas na superfície que já lutava para manter-se serena ante o vento forte que agitava o mar.</div>
<div dir="ltr" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.6888885498047px;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.6888885498047px;">
Quando a Âncora cravou-se na terra, começou mais uma espera. Porque por menos inquieto que fosse o marinheiro, ela voltaria a ser içada.</div>
<div dir="ltr" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.6888885498047px;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.6888885498047px;">
E assim que a Âncora finalmente voltasse a tona, ante aplausos e alegrias, o fundo do mar voltaria a sua escuridão silenciosa. Mas a marca da Âncora permaneceria no solo até que as águas o remoldassem. Para a próxima Âncora.</div>
Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-44557771365958383262014-05-02T13:12:00.000-03:002014-05-02T13:16:42.698-03:00A caixaEra a primeira vez que ele via uma caixa tão bonita.<br />
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O embrulho vermelho cintilante espelhava tudo em seu entorno, inclusive sua própria face. O laço também vermelho, exageradamente grande, parecia pedir para que fosse desfeito. Mas durante alguns minutos, ele não pôde sequer tocá-lo. Apenas continuou a olhar as imagens refletidas no papel espelhado.</div>
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<br /></div>
<div>
Não havia nada que denunciasse quem era o remetente, mas ele desejava ardentemente que fosse <i>alguém</i>. Só havia uma pessoa, em todo o mundo, que o faria feliz enviando-lhe algo. A caixa poderia estar vazia... Mas se ele soubesse que fora <i>aquela</i> pessoa quem lhe mandara, sentiria todo o conforto do mundo sobre seus ombros.</div>
<div>
<br /></div>
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Os últimos dias que passara trancado dentro de suas próprias angústias provavelmente teriam sido os mais escuros de toda a sua vida. Ele sabia que estava sendo testado e sentia que a cada dia suas forças se extinguirem mais, a ponto de ter certeza que não passaria à prova. Não era a primeira vez que sua resistência fraquejava; mas desta vez, ele se sentia sozinho demais para lutar contra todas as barreiras que surgiam a sua frente. Algo lhe dizia que tudo seria diferente se pudesse sentir <i>sua </i>presença mais próxima, mas a cada dia parecia mais impossível que isso pudesse acontecer.</div>
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Quando viu aquela caixa esperá-lo, como flamejando em meio aos tons de cinza da mesa do escritório, correu para tomá-la nas mãos, inconscientemente temendo que queimasse tudo a sua volta. Para o delírio de seus sentidos, a caixa estava gelada. Sentado na poltrona, petrificou-se a admirá-la.</div>
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Só quando o clique do relógio de mesa indicou que o expediente de trabalho começaria, deu-se conta que deveria abri-la. Em breve curiosos chegariam e lhe perguntariam o que era aquele objeto cintilante que tinha nas mãos. Não, ele mesmo não estava curioso para ver o conteúdo do caixa. Porque mesmo que desejasse com todas suas forças que <i>uma pessoa </i>o tivesse presenteado, sabia que havia a triste possibilidade de seus desejos não se realizarem. E aquele sentimento de dúvida era infinitamente mais agradável do que a decepção de estar enganado.</div>
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Ele talvez tivesse cinco minutos mais para aproveitar a sensação única de ter a caixa anônima sobre suas mãos. Para sua sorte, seus demais companheiros de trabalho não eram nada pontuais e não o importunariam por mais algum tempo. E durante esse breve instante, aproveitou para imaginar como teria sido o envio daquela caixa, por <i>alguém</i> tão incrível. Podia ver suas mãos embrulhando o pacote com delicadeza e capricho, e a imagem de seus dedos dançando ao fazer um laço tão perfeito era tão real que ele mesmo não conseguia imaginar outra pessoa o fazendo.</div>
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Não havia mais como adiar. Ao longe, os passos e risos dos outros funcionários já podiam ser escutados. Com o coração disparado, abriu cuidadosamente o embrulho, tomando cuidado para não destruí-lo por completo. Por debaixo do papel espelhado, uma tampa firmemente encaixada na embalagem guardava o presente. Ele sentia-se tolo por ter as mãos tão trêmulas. Ao abrir a caixa, a surpresa: um livro! </div>
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Tomou-o nas mãos, buscando uma dedicatória ou qualquer escrito que pudesse lhe confirmar quem lhe remetera o embrulho. Não havia nada. Mas ele não precisava de mais nada. Já era suficiente.</div>
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Ele tinha certeza que só uma pessoa, em todo o mundo, lhe mandaria um livro em branco. Porque só uma pessoa desejava, onde quer que estivesse, que ele completasse suas páginas vazias.</div>
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Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-3133336885262558232013-11-30T01:21:00.000-02:002013-11-30T01:26:22.381-02:00MixofobiaEla não estava preparada para o grande dia.<br />
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Durante os últimos anos acordava todos os dias pensando em como seria sua vida depois que, finalmente, saísse de casa para viver com um desconhecido. Ela sabia que a chance de erro era inexistente, de acordo com a grande mídia. Desde a grande revolução, todos eram felizes para sempre em seus relacionamentos indestrutíveis.<br />
<br />
Tentava imaginar como poderia ser antes da revolução, quando todos eram obrigados a testar suas vidas com pessoas incompatíveis. Como conseguiam sobreviver? Claro, havia aquilo que eles chamavam de divórcio mas... E o sofrimento? E a dor?<br />
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Ela era muito sortuda por viver em outros tempos.<br />
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Há um ano completara a idade mínima para cadastrar-se no banco de dados mundial. Estava apreensiva, morria de medo que algo desse errado. Tinha que ser franca e colocar cada detalhe que lhe era questionado: todas as características físicas, todos os gostos e desgostos. O questionário era muito rigoroso. Se bem preenchido, não havia porque temer.<br />
<br />
Poucos meses depois, recebera a notícia. A total compatibilidade de perfis era garantida. Bastariam mais alguns meses para organizar sua realocação, já que ela teria de viver do outro lado do planeta. Não haveria nenhum problema quanto a culturas ou línguas diferentes: tudo isso era passado. Naqueles novos tempos padronizados, não havia o menor espaço para diversidades.<br />
<br />
Quando vira a fotografia do futuro companheiro com quem passaria o resto da vida, respirou aliviada. Era como se ela própria o tivesse desenhado. Recriminou-se por ter imaginado em algum momento que sua aparência poderia desagrada-la.<br />
<br />
Mas ali, as vésperas do dia em que assinariam os contratos de união, sentia-se angustiada sem saber porque.<br />
<br />
Passaram-se alguns segundos até dar-se conta de que o telefone tocava. Aquilo era estranho. Além de seus pais e da empresa, não se comunicava com ninguém por voz. Tudo era transmitido pela rede.<br />
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- Pois não?<br />
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- Ei! Oi! Olhe, não assine nada amanhã! - a voz era rouca e desconhecida. Como alguém descobrira seu número? Como alguém conseguira burlar os sistemas de restrição para contatá-la? - Isso tudo é uma grande farsa! Não existe jeito de tranformar gente em número! Essa história de compatibilidade é mentira! Essa mixofobia que causou a revolução é doentia! Ser diferente não é ruim e...<br />
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Ela ouviu um estalo, e depois tudo era silêncio.<br />
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Nervosa, não sabia o que fazer. O que podia significar tudo aquilo? De todas as palavras, uma ficara ressoando em sua cabeça: mixofobia. Mistura, medo. Medo de mistura? Seria mesmo mentira o que a grande mídia sempre defendera? Que os padrões deveriam ser preservados? Que o diferente trazia medo e sofrimento?<br />
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Passou a noite em claro, refletindo. Chegou, enfim, o momento da assinatura dos papéis.<br />
<br />
Ela se deparou com seu futuro companheiro. Era a primeira vez que o via pessoalmente. Ao contrário da imagem que vira meses atrás, o jovem não estava sorrindo.<br />
<br />
De acordo com as regras estabelecidas, era ele quem deveria assinar primeiro. Escreveu algumas palavras no papel timbrado e, segurando a caneta com força, quebrou-a ao meio.<br />
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- Desculpe. Eu não posso.<br />
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Mal terminara de dizer, um vão abriu-se sob seus pés, fazendo-o desaparecer antes que ela pudesse reagir. O que estava acontecendo?<br />
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Antes que algo mais pudesse lhe acontecer, tomou o papel nas mãos. No local indicado para a assinatura, conseguiu ler os símbolos tremidos.<br />
<br />
"Não há compatibilidade humana".<br />
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Aquilo era suficiente para que sua mente se abrisse. Ela entendeu, enfim, o quão absurdo era tudo aquilo. Tinha uma prova concreta de que a grande mídia não era a verdade.<br />
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Pela primeira vez, não teve medo.Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-89685176354713636552013-07-28T14:01:00.000-03:002013-07-28T14:01:21.473-03:00Pílula do esquecimentoNão era a primeira vez que ele visitava aquele lugar, mas com tanta mudança, era como se fosse. <div>
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A última vez que entrara em uma drogaria fora antes da Grande Revolução, dois meses atrás. O ambiente que antes mais parecia uma ala de hospital, com seus funcionários de roupas brancas e limpas, hoje mais parecia um botequim. Desde que o Comando pela Ordem assumiu o poder, era extremamente proibido que um civil qualquer vestisse roupas brancas. </div>
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Ele seguiu até o balcão, relutante. O senhor que estava atrás do balcão parecia não fazer a barba há dias. Isso o assustava. Sabia que em algumas cidades os Organizadores prendiam qualquer um que fosse suspeito. A barba era, com certeza, um claro traço de rebeldia.</div>
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- Preciso de três pílulas - cuspiu as palavras de uma vez, pulando qualquer saudação amistosa. Estendeu os cartões que retirara de sua caixa de correspondências pela manhã.</div>
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O velho fitou-o com uma expressão enojada, mas pegou os papéis de sua mão. O Comando pela Ordem adoraria que todos tivessem acesso à pílula, mas a quantidade produzida era limitada. Os Organizadores sabiam que as prisões eram por si só ótimas ferramentas de controle, mas por alguma razão que nem mesmo os mais poderosos cérebros da Ordem conseguiam compreender, alguns civis não a temiam. Sim, eles sabiam que era muita benevolência oferecer-lhes a pílula como forma de sobrevivência... Mas era realmente necessário que, aos olhos dos outros países membros, fossem respeitados esses mínimos detalhes contratuais.</div>
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Ele viu o velho levantar e ir buscar as pílulas no fundo da loja. Aproveitou para observar o quanto tudo parecia abandonado. Drogarias como aquela só vendiam suplementos. A última vez que entrara ali fora para comprar remédios para sua avó, a pessoa que mais amava. Com a Revolução, tudo fora confiscado pela Ordem. Para conseguir os remédios era necessário pagar três vezes mais. Os remédios eram entregues em casa. Da última vez que fizera um pedido, um mês atrás, os remédios não chegaram. Os Organizadores enviaram-lhe uma notificação, dizendo que a entrega fora roubada por um grupo de rebeldes contrabandistas. O dinheiro não seria devolvido. Uma semana depois, a avó não conseguiu resistir a falta de medicamentos e morreu, em casa.</div>
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O velho voltou trazendo três cartelas pequenas em uma das mãos e, com a outra, pegou um caderno velho sem pautas.</div>
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- Assine.</div>
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Assinou o nome com dificuldade. Há tempos não escrevia nada.</div>
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Antes de fechar o caderno, o velho tomou o cuidado de certificar-se que fora assinado corretamente. Ao ler o nome do jovem, não conseguiu disfarçar a surpresa. Levantou os olhos para ele, procurando reconhecer de alguma forma os traços que deixara passar. Realmente, não era possível.</div>
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- Não pode ser você... A barba! Você a tirou! Foi isso, só pode ser.... Quantas vezes vi seu rosto nas manifestações? Você apareceu em todos os jornais! Mas... como... como você pode...</div>
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- Por favor - ele o interrompeu antes que o martírio recomeçasse - me dê as pílulas. Vamos acabar com isso de uma vez.</div>
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Os olhos do velho que antes parecia tão taciturno se encheram de lágrimas.</div>
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- Você é nossa esperança! Eu imaginei que após o Dia da Queda você tivesse se juntado aos manifestantes que formaram a guerrilha... Não tome a pílula! Não tome!</div>
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Quando deu por si, ele saltara o balcão e arrancara as cartelas da mão do velho. Deixou-o deitado no chão da drogaria, chorando como uma criança.</div>
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Não esperou chegar em casa. Tomou as três pílulas, todas de uma vez. Sentiu-as cortarem-lhe a garganta, como navalhas. Engasgou, tossiu muitas vezes. Pegou a primeira garrafa que viu na prateleira e bebeu ruidosamente. Sentiu vertigens como nunca antes. Os olhos lacrimejaram, mais do que em todas as vezes que inalara os gases tóxicos das bombas nas manifestações. Tudo ficou muito claro, e era como se a luz queimasse seus olhos. Silêncio.</div>
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Atrás do balcão, o velho levantou com dificuldade, trêmulo. Ele sabia, sempre soubera. A pílula do esquecimento tinha efeitos colaterais. Ela matava a esperança.</div>
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Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-4374685753795154882013-05-06T10:59:00.000-03:002013-05-06T11:05:30.152-03:00Defesa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW3hJBEXV37K6AL8m_J91ME7COA_SyGYqEWtz6P5X44jSSPwXO2fHp13hxU2k4FxrNyyvfSKs69Y9B0UDVoBmUi1HOi3T9UCFxIDGzl4CiITkOojbdPYWH4wYueHpURP7788vFLsKDMK3g/s1600/DSC02177.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW3hJBEXV37K6AL8m_J91ME7COA_SyGYqEWtz6P5X44jSSPwXO2fHp13hxU2k4FxrNyyvfSKs69Y9B0UDVoBmUi1HOi3T9UCFxIDGzl4CiITkOojbdPYWH4wYueHpURP7788vFLsKDMK3g/s320/DSC02177.JPG" width="320" /></a></div>
Tive a oportunidade de conhecer alguns discursos de pessoas que expuseram suas opiniões sobre o que achavam das redes sociais e alguns acontecimentos dos últimos dias contribuíram para sustentar meus contra-argumentos a essas linhas de pensamento.<br />
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O primeiro caso é de um professor de Química que conheci quando era diretor de uma instituição. Ele confessou que fora citado tempos atrás por um estudante, que fizera-lhe falsas acusações: escrevera publicamente na rede que o diretor era ausente, dentre outras calúnias. Contrariado, o diretor excluiu sua página pessoal da rede e não tornou a incomodar-se com essas críticas que considerava descabidas.<br />
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Em outra ocasião li um artigo de uma famosa revista brasileira, em que o escritor criticava a rede criada por Mark Zuck, mostrando seu abomínio pelas mais diversas razões; fosse o fato de que os mortos não tinham suas páginas excluídas pós óbito, fotos de rapazes descamisados e, principalmente, o comércio.<br />
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Diante desses e outros argumentos contrários ao uso das redes sociais, me senti tentada a escrever algo em sua defesa.<br />
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Para início, me parece claro o poder de unificação das redes sociais. Unificação no que tange o compartilhamento de ideias, histórias, imagens e percepções. Há, incontestavelmente, a quebra de barreiras da tão aclamada individualidade - para nossa alegria. Tempos atrás ser privado, exclusivo, ter suas próprias coisas, ser único, eram mais do que qualidades. Tudo levava ao aumento do consumo, das desigualdades, das distâncias entre as classes. Ora, é sim muito otimismo meu crer que não haja mais esse tipo de ideologia. Mas o que são as redes sociais senão um ambiente onde não há espaço para isso?<br />
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Bem, é possível manter-se indivíduo na rede. Pode-se deixar informações restritas a si mesmo, ou aos amigos. Até mesmo eles podem ser "selecionados"! Mas, ao contrário da vida fora da rede, não há espaço para múltiplas personalidades e opiniões contraditórias em um "feed". Talvez haja espaço, mas pouco ânimo para administrar mil e uma...faces.<br />
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Já presenciei discussões de reclamantes sobre opiniões, fotos, vídeos e outras "bobagens". Noto que muitas vezes há dificuldade em assimilar que o conteúdo publicado nas redes sociais é nada mais do que uma versão do que temos todo o tempo, em todo lugar. Diante de publicações que de alguma forma desagradam as convicções e opiniões do usuário, tem-se duas alternativas: ignorá-las, excluí-las - quando possível -, ou confrontá-las, comentando o que lhes parecesse incoerente. Eis que, ao tomar esta última posição, o usuário assume um papel transformador, que nem sempre é prazeroso. A menos que suas convicções sejam claras, e que não haja dúvida sobre o que é opinado, a tarefa de convencer e compartilhar conhecimento pode ser desgastante. De forma alguma, porém, desnecessária. Na "pior" das hipóteses, o usuário seria convencido de que pode mudar de opinião... o que não é o fim do mundo.<br />
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Este compartilhamento de conhecimento não é visto com bons olhos por muita gente. Embora na teoria a aversão ao fascismo e nazismo prevaleça, o que vemos é que muitas pessoas tem desprezo por uma parte da população que tem acesso às redes sociais e que, finalmente, pode opinar sobre o que é visto e vivido. Como se alguns merecessem usar a rede e expôr seus pensamentos, enquanto outros, não. Provavelmente porque há muito o que ser escondido. Não é preciso esforço para lembrar-se de casos escusos que vieram à tona e tomaram grandes repercussões por conta das redes sociais: políticos com ideias repugnantes, problemas ambientais mascarados, governos e falsos governantes... Claro que os discursos podem ser manipulados, seja dentro ou fora das redes sociais. Mas com tantos usuários diferentes... cada um pode compartilhar - ou não - aquilo que acredita e defende.<br />
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Quanto aos exemplos de figuras que tem aversão às redes sociais, fica a dica: se o estudante fez o comentário sobre a ausência do diretor, será - uma hipótese, apenas - que não haveria qualquer razão nisso? E se ao invés de ter excluído o perfil, ele o tivesse respondido? Porque, convenhamos, o fato de ter "saído" da rede não quer dizer que os problemas também deixaram de existir. Não seria mais prudente resolvê-los?<br />
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Sobre o famoso articulista... Bem, este caso é mais complicado. Talvez Zuck possa analisar o grande problema que os perfis mortos causam... ou criar uma rede pós mortem, para que os entes queridos sejam para sempre lembrados - só que não. O aspecto comercial a que o articulista se refere está relacionado às empresas que criaram perfis nas redes sociais. Talvez - também, apenas uma hipótese - elas tenham notado, ao contrário do diretor - que interagir com seus clientes por este meio estreita as relações com o consumidor e permite que haja maior confiança; o usuário com certeza optará pela empresa que se preocupa com suas críticas e opiniões.<br />
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E sobre os rapazes sem camisa... Bem, suponho que ele também nunca vá a praia. Não sabe o que está perdendo...<br />
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<br />Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-55323313552415643312013-02-17T15:23:00.000-03:002013-02-18T12:04:38.108-03:00Let's talk about madness<br />
Let's talk about madness.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Dostoievsky did it when he wrote "The double" - and just for a close call I am not as crazy as his hero now.<br />
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After read this russian drama I went to Wonderland with Lewis Carrol. Wow, that was an amazing experience!<br />
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But, unfortunatelly, I had to close the book and come back to my reality.<br />
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For a few minutes, while I was browsing on the internet, I saw so many unbelievable news! The Pope resigned, a meteor visits our russian friends, a lot of people kill other ones for any reason - are there any reason to kill other one? - and many other strange cases.<br />
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It is really hard to believe that we are not living in a mad world. It is particulary interesting to see all these people who try to establish "standards of conduct", that imposes what is correct and what is not. Is there a magic recipe? I don't think so.<br />
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If it is so good to live on the perfect way of reality, why so many people are destroying the enviroment, killing theirselves, and resigning their worlds?<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRpITcjq1n7sOYGYpcewdjT1AMthsW7gRCYnqc83CjeW6QROADhZMV9KxXOl1jlAgBUhrKLZ21VUSbg9k4jQ0oRcsRb0h3Ew0Lnl4DSdBNgYv2t0I3xj2IbaOylrmnpPzb7cTVPYTrcDw3/s1600/dostoievski1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRpITcjq1n7sOYGYpcewdjT1AMthsW7gRCYnqc83CjeW6QROADhZMV9KxXOl1jlAgBUhrKLZ21VUSbg9k4jQ0oRcsRb0h3Ew0Lnl4DSdBNgYv2t0I3xj2IbaOylrmnpPzb7cTVPYTrcDw3/s200/dostoievski1.jpg" width="158" /></a>Maybe it's time to visit Wonderland, Nárnia, or any other fantastic place.Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-57439905504321650082013-01-03T14:18:00.000-02:002013-02-03T14:41:50.112-02:00Cigarra e Formiga: (des)construindo EsopoSeria a primeira vez que ela enfrentaria o inverno.<br />
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Pelo pouco que sabia das lendas e fábulas, sua tranquilidade logo teria fim. Há centenas de anos seus ascendentes sofreram com a má fama de desocupados e desprecavidos. Foram humilhados por todas as espécies de animais. Sua fama era ainda pior do que a da Preguiça. Sorte da Preguiça. Ela sequer ficava acordada para ouvir as fofocas a seu respeito. E mesmo quando acordasse não se daria o trabalho de fazê-lo.</div>
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Ao longo de sua curta vida ainda não entendera de onde vinha todo o mérito que insistiam em atribuir a sua vizinha.</div>
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Não que tivesse algo contra ela; pelo contrário. De certo modo, admirava sua força. Mas não a invejava, de modo algum. Para que desejaria uma vida como aquela? A pobre submissa aos níveis hierárquicos de sua espécie sequer dispunha de asas que a pudessem levar para longe de tamanho stress. </div>
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Não havia porque invejá-la. Salvo pelo fato de que naquele momento, provavelmente, o estoque de alimentos de sua vizinha fosse maior do que o seu. A verdade é que não havia estoque nenhum em seu refúgio de inverno.</div>
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Naquele momento ela via duas opções: podia submeter-se ao ridículo como seus antepassados e mendigar alimentos, sabendo que correria o risco de ouvir a clássica frase repetida por Esopo, La Fontaine e milhões de professores de escolas infantis por todo o mundo - Cantaste? Pois agora, que dance!" -, ou poderia morrer de fome. Seu frágil sistema digestivo soou mais forte que todo seu orgulho, e ela simplesmente foi tentar a sorte.</div>
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<br /></div>
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Seguindo a tradição, contou a vizinha sobre seu atual estado de desgraça. Lastimou sua má sorte, prometeu-lhe devolver tudo o que comesse com juros e correções monetárias, embora sequer soubesse o que significava aquela expressão.</div>
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A vizinha a fitava com seus olhos gigantes e um profundo pesar. Via-se que estava com olheiras profundas. Embora suas pernas parecessem fortes, seu triste semblante era o retrato de um avançado estado depressivo.</div>
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Somente aquele dia perdera as contas de quantas vezes quase fora esmagada. Perdera o apetite, o sono e o ânimo. </div>
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- Pode comer o que quiser.</div>
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Por alguns instantes a Cigarra pensara que traduzira de forma errada o Feromonês. Mas ela estudara por longos dias aquele estranho idioma da vizinha, e aquela mensagem só podia significar aquilo mesmo.</div>
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Arriscou perguntar:</div>
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- O que posso oferecer em troca?</div>
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- Cante.</div>
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A Cigarra até poderia ter questionado aquela intrigante troca, mas se aquietou. Fez sua refeição e, quando se deu por satisfeita, fez sua pequena apresentação para a vizinha. </div>
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O som da música a capella ecoou pela casa da Formiga. Era a primeira vez que ela sentia a música a invadir de forma tão plena. Seu corpo vibrava a cada nota aguda que a Cigarra entoava. Nunca a Formiga tivera tamanha satisfação.</div>
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Ela podia morrer naquele instante, que toda a sua existência teria valido a pena.</div>
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Quando a Cigarra se calou, a vizinha permaneceu paralisada por alguns longos segundos. Ambas sentiam-se emocionadas demais para fazerem comentários. Sem cerimônia, a Cigarra voltou para seu recinto.</div>
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<br /></div>
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No dia seguinte, no outro, e enquanto durou o inverno, a Cigarra ao término do dia visitava a vizinha e cantava para ela. Enfim, alguém reconhecera sua arte.</div>
Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-14533756990297109142012-10-27T22:28:00.002-02:002012-10-27T22:28:34.289-02:00Conto da despedidaEm algum lugar, 25 de outubro de 2012<br />
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A minha outrora amada,<br />
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Sei que você deve estar surpresa em receber esta carta. Nunca fui bom com as palavras, e sempre tive uma preguiça enorme de escrever. Mas confesso que não vi outra forma de falar-lhe palavras tão duras. Sei que é covardia não olhar em teus olhos para dizer o que tenho de tão urgente, mas não havia outra maneira.<br />
<br />
O que tenho para dizer é algo novo, inclusive para mim. Até pouco tempo tinha muitas certezas: sabia que a amava, e que era meu bem mais precioso. Sabia inclusive que sem você seria um vazio sem fim. Mas nos últimos dias um punhado de dúvidas me acometeu de tal forma que agora estou eu aqui, escrevendo-te uma carta de despedida.<br />
<br />
Quero deixar claro que o culpado sou eu mesmo. Sei que em momentos de fúria disse palavras horríveis a você, e não é a primeira vez que me tento a abandoná-la. Mas creio que nunca antes tive reais motivos... Sempre fazia questão de colocar a culpa em outras pessoas ou em situações rotineiras. Só agora dei me conta de que o verdadeiro responsável por este fracasso, sou eu mesmo.<br />
<br />
Nos últimos dias, descobri fatos importantes sobre mim.<br />
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Lembra-se de quando eu defendia a liberdade? Quando dizia que só seriamos felizes quando fossemos livres e sem obrigações? Descobri que estava mentindo para mim mesmo. A verdade é que não suporto a ideia de ver os bandidos fora das prisões, as feras fora das jaulas, os pássaros fora das gaiolas.<br />
<br />
Lembra-se de quando lhe disse que jamais bateria em meus filhos? A verdade é que eu mesmo espanquei muitos colegas da escola quando era mais jovem, e me senti muito feliz com isso.<br />
<br />
Lembra-se quando lhe disse que o maior mal da nossa mídia era a censura? A verdade é que monitoro cada palavra que meus amigos colocam nas redes sociais, para processá-los ao menor sinal de ataque a minha honra.<br />
<br />
Lembra-se quando chorei ao assistir aquele vídeo sobre os campos de concentração nazistas? Quero que saiba que eu tenho vontade de matar aqueles indivíduos com suas músicas escandalosas, que não suporto aqueles apolíticos iletrados, e que muitas vezes antes de dormir já imaginei um mundo perfeito onde não haveria uma parte considerável de pessoas que desagradam minhas preferências. Até sonhei com um mundo perfeito, onde só a imagem da beleza era vista.<br />
<br />
Não sei como exatamente me dei conta... Acho que foi durante aquela viagem de trem.<br />
<br />
Descobri que eu sou exatamente o oposto do que defendo.<br />
<br />
Para falar a verdade, a essa altura não sou mais. Como lhe disse, esta é uma carta de despedida. Durante um dia inteiro tentei mudar, e não consegui. Encurralado, sufoquei-me ante tamanho paradoxo, e aqui me despeço.<br />
<br />
Vida, agradeço porquanto tenha durado...<br />
<br />
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Q.Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-2836571344875243672012-07-11T14:48:00.000-03:002012-07-11T14:48:54.964-03:00O dono da ideiaTudo estava muito quieto. Ele estava deitado ao lado da cama do irmão, que milagrosamente não roncava aquela noite. Já se passava das quatro horas da manhã, e aquela maldita insônia não o deixava dormir de jeito algum.<br />
<br />
Ele não conseguia impedir aquele combate de vozes lutando em sua cabeça. Às vezes eram lembranças do que acontecera horas antes, ou até mesmo na semana anterior. De repente, mais alto, ele ouvia a própria voz tentar dominar aquela grande bagunça que se formara em sua cabeça. Voltava ao quarto escuro, e tinha medo que as crises de síndrome do pânico voltassem. Antes que o calor começasse a subir pela sua nuca, e aqueles pensamentos o fizessem acreditar que estava louco, acendeu a luz.<br />
<br />
A claridade do ambiente permitiu que seu medo e sua respiração se controlassem. O irmão se revirou em sua cama, mas pareceu não acordar. Melhor assim.<br />
<br />
No criado mudo havia uma folha de papel branco rabiscada, mais ainda restava um espaço branco no fim. A gaveta rangiu de velhice quando ele a abriu e tateou em busca de algo com que pudesse escrever.<br />
<br />
Faltaram-lhe palavras. Elas eram tão delatoras, que ele achou melhor não escrever nada. Desenhou traços e mais traços, sem notar exatamente que forma construía.<br />
<br />
Não sabia ao certo quanto tempo se passara quando a explosão aconteceu. Sim, porque fora como uma grande explosão; tudo se iluminara, e ele podia sentir a força e a energia.<br />
<br />
Não era uma ideia qualquer. Era algo inovador, algo incrível, que com certeza o tornaria alguém muito importante. E ele com certeza ficaria milionário com aquela ideia. Mas e se alguém a descobrisse? E se quisessem roubá-la? Não, ele não deixaria. Teria de escondê-la de alguma forma. Mas se a escondesse.... Como saberiam o quão inteligente era seu criador? Como ele ganharia seu dinheiro?<br />
<br />
O medo de que o descobrissem dominou-o por completo, e quando ele percebeu, estava prestes a rasgar o papel. Em pânico, desamassou-o. Trêmulo, pegou seu celular sobre a cabeceira e ligou sua câmera. Sim, ele iria tirar uma foto. Teriam que acreditar na data e no horário, saberiam que ele fora o primeiro a ter a grande ideia. E ele seria o dono dela, mais ninguém. Patentearia, caso fosse necessário.<br />
<br />
O celular caiu de suas mãos.<br />
<br />
- Mas o que é que você está fazendo a essa hora?<br />
<br />
O susto não fora maior do que o terror que sentiu ao ver que seu irmão acordara. Como poderia esconder a ideia dele? Ele faria perguntas e mais perguntas.... Irmãos adoram fazer perguntas... E se ele quisesse tomar-lhe a ideia?<br />
<br />
Teve que conter-se para não cair aos prantos.<br />
<br />
- Que nervosismo é esse? Você viu alguma coisa? Está com medo?<br />
<br />
- Não, eu só estava rabiscando. Só rabiscando, para dormir. Queria dormir, mas não consigo.<br />
<br />
- O que você está rabiscando? Quero ver.<br />
<br />
Ele não lutou, entregou o papel. Não tinha como lutar com ele.<br />
<br />
O irmão olhou o papel e seus olhos se iluminaram.<br />
<br />
- Que bacana! Onde você viu isso?<br />
<br />
- Não vi nada não, nada. Saiu da minha cabeça, a ideia é minha. Eu que fiz, sou o dono dela.<br />
<br />
O irmão soltou uma gargalhada assustadora.<br />
<br />
- Como assim sua? Ninguém tem ideia nenhuma cara. Olha só, quando você nasceu, já existia muita gente no mundo. Tiveram que te ensinar as coisas, não foi? Se não tivessem te ensinado as coisas, você não ia saber nem falar. Ou você viu isso em algum lugar, ou viu algo parecido.<br />
<br />
Ele sentiu raiva, e quase esqueceu-se de seu tamanho para atirar-se contra o irmão. Mas não podia fazê-lo antes de recuperar seu papel.<br />
<br />
- Nunca vi nada parecido. Não copiei de ninguém.<br />
<br />
- Tudo bem, mas você deve ter se inspirado em alguém, ou alguma coisa. Mas não precisa ficar bravo, isso não quer dizer que tenha menos valor por isso. É bacana de qualquer jeito. Você vai colocar na internet?<br />
<br />
- Não. Não vou, não quero que roubem minha ideia.<br />
<br />
Mais uma vez aquela gargalhada.<br />
<br />
- E quem disse que se roubam ideias? Ideias não são roubadas... ideias são compartilhadas. Pára com isso... Imagina se o cara que inventou o fogo tivesse pensado assim? E a eletricidade? E tudo? A gente não teria História! Seríamos todos animais selvagens... ou não teríamos avançado de forma alguma em relação a tecnologias, ou qualquer outro tipo de coisa...<br />
<br />
Por um momento, parecia que havia algum sentido no que o irmão dizia. Mas ainda assim... E se ele estivesse querendo roubá-la, para ficar como todo o dinheiro para si?<br />
<br />
- A ideia é minha. Vou patenteá-la. E vou ganhar dinheiro com isso.<br />
<br />
Dessa vez, ele não gargalhou.<br />
<br />
- Então é isso? Toda essa aflição, por que você quer ganhar dinheiro com sua ideia... Vamos pensar o seguinte. De qualquer forma, para que você ganhe dinheiro com ela, você terá que compartilha-la. Se você compartilhar com alguns poucos milionários, eles até te pagarão por isso. E eles vão usar sua criação como eles quiserem. Podem até matar um monte de gente com isso. Agora, vamos supor que você compartilhe com o mundo inteiro. É provável que alguns tomem seus créditos por sua obra - mas geralmente acabam descobertos. Mas todos terão acesso a sua genialidade, e poderão se beneficiar dela. Se alguns tentaram usá-la para fazer coisas ruins, outros tentarão usá-la para o bem. E isso vai ajudar, de alguma forma, na construção da História! Será que você consegue perceber isso, ou prefere continuar sendo egoísta?<br />
<br />
Ele não respondeu. O irmão lhe entregou o papel e virou-se para dormir.<br />
<br />
Passou ainda algum tempo olhando para o papel, antes de adormecer. Quando acordou, não encontrou papel algum. Tentou recordar-se de sua ideia, mas nada veio a mente. Buscou encontrar embaixo da cama e dos móveis o papel perdido, mas nada apareceu. Teria sido algum sonho? Ou teria ele enlouquecido como sempre temera?<br />
<br />
Acordou o irmão e lhe perguntou sobre o que acontecera. Ele resmungou que não se lembrava de nada, e que devia ser mais um de seus ataques de sonambulismos.<br />
<br />
Mas ao invés de irritar-se, o dono da ideia sorriu. Ficou aliviado por não ter que tomar uma decisão tão importante. Vestiu seu uniforme e foi para a escola.<br />
<br />
O irmão ficou sentado na cama, e refletiu durante muito tempo. Pegou o papel amarrotado no bolso, e admirou-o. Pensou se fizera o correto... E concluiu que sim. Afinal de contas, seria uma grande frustração para um garoto de sete anos descobrir que a máquina de escrever se tornara um objeto tão obsoleto.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-31120076762916662502012-04-20T23:51:00.001-03:002012-04-20T23:51:35.041-03:00Boicote às farsasO mais estúpido mal que nos persegue desde muitos anos antes de qualquer referencial de tempo da história da humanidade é, sem dúvida alguma, a farsa.<br />
<br />
Sento-me aqui hoje para declarar meu asco a todo e qualquer tipo e nível de farsa. Faço questão de enumerá-las para que elas sejam mais visíveis a nossos olhos míopes... e não digo isso por efetivamente ter a visão turva pela miopia, mas porque se torna cada vez mais nítido o quanto a sociedade de hoje se cega ante fingimentos e ilusões. Já nos trouxe Saramago o "Ensaio sobre a cegueira", para que pudessemos ao menos reconhecer nossa alienação... Hoje venho expôr algumas dessas farsas que tem me aflingido nos últimos dias ou anos... primeiro porque essas semanas por algumas vezes já perdi a voz de tanto repeti-las àqueles que tiveram a paciência de ouvi-las, e também porque tenho uma devoção sem tamanho ao poder da palavra escrita e por sua amplitude, que rompe barreiras temporais ou geográficas.<br />
<br />
Muitos começariam por destacar que a pior das farsas é a dos políticos e governantes, que já se tornaram em nosso país o esteriótipo para a figura do malandro desonesto. Não vou defendê-los aqui, e tampouco os atirarei pedras. Mesmo porque, existe farsa pior do que apontar os defeitos e pecados alheios, eximindo a si mesmo de culpa? Sim, os elegemos. Sim, somos nós quem devemos destituí-los.<br />
<br />
E o que dizer sobre a farsa da educação? Ora, não é preciso ser mestre ou doutor para saber que o conhecimento é o que move o ser humano, que nossa capacidade de transmitir nossas aprendizagens às gerações futuras é o que nos difere como racionais. Mas o que dizer sobre os falsos sistemas de ensino que alienam os estudantes, ao invés de torná-los críticos? Que os segregam, ao invés de estimulá-los ao convívio social? Que os tornam passivos, ao invés de estimulá-los na busca pela criatividade, pela inovação e pela arte?<br />
<br />
O que dizer sobre a farsa dos profissionais? Os falsos professores, que fingem serem educadores? Pior ainda, os falsos estudantes, que simulam um aprendizado inexistente. Mas ainda há quem diga que a verdadeira educação ''vem do berço''. E o que dizer dos falsos progenitores, que fingem educar seus filhos?<br />
<br />
Não podemos esquecer também da farsa nas relações cotidianas. O que dizer dos falsos sorrisos? E pior ainda, dos falsos amores? Como não repudiar a farsa dos enamorados que não amam, dos médicos que não curam, dos padres e pastores que fingem fazer pregações, das ONGs cujos presidentes matam elefantes, dos ricos filantropos, dos países ricos com população alienada, ou dos países pobres com população miserável, cujos governos enriquecem as custas da fome e da guerra. Ah, como poderíamos esquecer!<br />
<br />
A grande farsa, que nos persegue e nos acompanha ao longo de toda a nossa história. A maior farsa de todas, que todos temem, mas que parecem não reconhecer sua razão de existir. Tivemos a primeira, a segunda, damos nomes e apelidos a elas. Buscamos culpados, protagonistas e vilões. Conseguimos até criar jogos estratégicos que nos tornem capazes (?!) de sobreviver a elas. Quer maior farsa do que criar um cenário grandioso que possa ser palco para que falsos herois - que na verdade são vítimas de uma jogo de interesses políticos e individuais - possam lutar por um objetivo maior e coletivo, que na realidade não passa de um enorme pretexto para alimentar as bocas famintas de uma minoria necessitada de poder.<br />
<br />
Chegamos, enfim, a farsa do capitalismo globalizado. E antes que indaguem, também enumero aqui as farsas dos regimes que fingiram usar os conceitos de Marx. Trago aqui a farsa das mídias compradas, do jornalismo manipulador, dos comentaristas com falsos argumentos. Trago a farsa da censura... E não digo só aquela que conhecemos pelos registros históricos da ditadura, mas também a silenciosa, que nos impede de dizer o que pensamos por medo de sermos coagidos por falsos moralismos.<br />
<br />
Diante de tantas farsas, muitos podem ter uma visão pessimista sobre o contexto em que vivemos. Ora, tudo isso está aí, e é real. Mas não está acabado. O tempo não é finito, ele nunca "está acabando". Por mais que a vida de cada um de nós seja limitada, as ações que fazemos hoje podem ter resultados refletidos muito além do que imaginamos. É realmente preciso mudar. Está na hora que acabar com as farsas. E nenhuma delas é magna o suficiente que não possa deixar de existir. E eu não tenho que virar um mártir para contribuir para que isso aconteça. Posso simplesmente deixar de fingir amores que não existem. Posso deixar de sorrir quando não quiser fazê-lo. Posso deixar de comprar um roupa de marca, para deixar de fingir que aquilo me torna alguém melhor. Posso.<br />
<br />
E podem dizer que o mundo perfeito nunca vai existir, e que as farsas nunca acabarão. Também podem. Mas eu tenho a ligeira impressão de que a cada momento que uma farsa - por menor que seja - deixa de existir, uma parte do mundo está melhor. E isso já me deixa plenamente satisfeita.Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-9205610746073929912011-12-08T19:50:00.001-02:002011-12-08T20:32:11.603-02:00aFinitude<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_dDd45f3baA1VV_NZeCLrj3XEcdb_fuqR-_Qh3q7yv7oOAor8tkToWA9dkSuu10PjUOyDkKw-otkdzBERp9g_HrWoPYiZH4zokdIKpyGbg5nAnaDikCvde6QN6R7laVUemXkf6cbfRW_P/s1600/61631-Royalty-Free-RF-Clipart-Illustration-Of-A-Broken-Blue-Wall-Clock-With-Who-Cares-Text.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_dDd45f3baA1VV_NZeCLrj3XEcdb_fuqR-_Qh3q7yv7oOAor8tkToWA9dkSuu10PjUOyDkKw-otkdzBERp9g_HrWoPYiZH4zokdIKpyGbg5nAnaDikCvde6QN6R7laVUemXkf6cbfRW_P/s200/61631-Royalty-Free-RF-Clipart-Illustration-Of-A-Broken-Blue-Wall-Clock-With-Who-Cares-Text.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Estes dias me dei conta que o
amor e o tempo são as mais importantes linhas que erguem cada uma das partes de
nossos membros de marionete. Essas linhas determinam se nossos ombros estarão levantados,
e se os cantos de nossas bocas estarão erguidos formando covinhas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O movimento circular dos
ponteiros pode ser um martírio em momentos entediantes, que podem ser palestras
de pseudo-sabichões, ou até mesmo ações repetitivas de uma linha de produção
capitalista. Desejamos que o mundo real torne-se ficção só para que possamos
apertar o botão do controle remoto, de modo que tudo passe mais rápido e
cheguemos logo ao fim.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas que fim?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para alguns, o fim de um momento
entediante pode acontecer com a chegada de algo – ou alguém – que possa gerar
um pouco de satisfação, alegria, felicidade. Nessas horas quebramos o relógio.
Queremos que os limites dos horários voem pelos ares. E a linha do amor nos
ergue a um plano maior, onde podemos ser aquilo que queremos sonhar com o que
desejamos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas antes que alcancemos nosso
nirvana, eis que o despertador toca.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se não bastassem criar amarras
para nos prenderem aos relógios, ainda colocaram um alarme para que não possamos
nos livrar de sua existência!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E diante da sirene assustadora, caímos
de volta à existência sistemática. É a vez de a outra linha nos guiar ao
cotidiano, ao rotineiro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Muitos devem se questionar: por
quê? Por que se prender ao tempo? Ora, porque não somos para sempre. Porque,
uma hora, o tempo acaba não é mesmo?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O tempo nunca acaba. Nós é que
delimitamos o tempo. O enclausuramos em nossos relógios e agendas, tornando-o
mais finito do que nós mesmos. E junto a ele, delimitamos nossos sonhos e
nossas vidas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não seriamos mais felizes se
simplesmente... vivêssemos?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Afinal de contas, como já diria o
poeta: “que seja eterno enquanto dure”...</div>
<br />
<br />
<br />Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-4357037851543626922011-08-19T23:16:00.000-03:002011-08-19T23:17:00.806-03:00Doença antídotaDesde os mais longínquos tempos que minha memória pode alcançar
<br />Idealizei uma figura fabulosa e indefinida
<br />Que protagonizaria momentos diversos de minha vida.
<br />Tão forte foi o desejo de que o incrível se tornasse real
<br />Que quando menos esperava, eis que ele me surgiu.
<br />
<br />Tão logo pude confirmar sua veracidade,
<br />Temi me tornar submissa e vulnerável.
<br />Relutei contra o magnetismo assombroso que me fazia ansiar desesperadamente por sua presença.
<br />Fugi de todos os caminhos cujo destino fosse encontrá-lo, embora soubesse que era nos atalhos onde ele me esperava.
<br />Sorrindo.
<br />Tentei dispersar de meus pensamentos a constante imagem de sua face,
<br />Mas o vento me trazia sua voz, o ar me trazia seu cheiro,
<br />E a todo instante sua presença estava cada vez mais enraizada em mim.
<br />
<br />De súbito me vi prisioneira,
<br />Acorrentada a um elo tão invisível quanto rígido,
<br />Tão inexistente quanto inexplicável.
<br />Busquei formas de me convencer do quanto esta prisão me entorpecia.
<br />Mas este entorpecimento me inebriava.
<br />Aos poucos me dei conta de que este ópio sedutor que me causava devaneios
<br />Era o mesmo que me corroia nas noites mais escuras e frias,
<br />Quando a solidão e o silencio me faziam lembrar minha condição vassala,
<br />Própria daquele que se doa sem pedir recompensa,
<br />Que se contenta com a esmola de um pequeno gesto ou sorriso.
<br />
<br />Se não bastasse o sofrimento causado pelo confinamento,
<br />Ver-te a despejar encantos em outros vasos, em outras docas,
<br />Fazia-me desejar que todo o mar secasse
<br />Só para que o fluido de seus olhos seguisse para minha própria foz.
<br />
<br />Mas jamais tive intento de lhe revelar.
<br />O orgulho comprimia-me a garganta,
<br />A voz pendia entre os lábios, sem deixar as palavras saírem.
<br />Tive medo, me contive.
<br />
<br />E por isso, o perdi.
<br />
<br />Passado o tempo, notei que o elo se tornara um fino fio de cobre,
<br />Resistente, maleável.
<br />Decidi que era o momento de o quebrar,
<br />De me livrar de todo o tormento que me prendia a uma ilusão.
<br />
<br />Foi quando notei que a angústia de jamais se libertar
<br />Era insignificante perto do medo de perdê-lo.
<br />
<br /> Vi-me novamente presa, acorrentada,
<br />Ansiando por uma forma de curar todas as moléstias causadas por esta doença antídota
<br />Singular, centenária, vital.
<br />O amor?
<br />Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-30042177638194070042011-05-20T21:00:00.005-03:002011-05-20T21:42:45.336-03:00AntinérciaVocê já parou para pensar qual o sentido da sua vida?<br /><br />Muitas pessoas com quem convivo vivem por inércia. Muitas vezes já tive que me dar safanões por quase me contaminar por essa maldita praga da passividade, que nos leva do nada para lugar algum.<br /><br />Quando crianças somos condicionados a nos adaptar às condições impostas pela sociedade. Aprendemos que é bom comer verduras, que quem vai para a escola é bonzinho, e que crianças educadas ganham presente do Papai Noel no final do ano. <br /><br />Mas com o passar dos anos... Somos obrigados a tomar conta de nossas vidas. Temos que tomar nossas próprias decisões, e as consequencias de nossos atos serão de responsabilidade nossa.<br /><br />Mas e o medo de tudo dar errado? E o medo de sermos discriminados? Eis que somos levados por inércia, seguindo tudo o que nos foi ensinado que é certo e perfeito, sem criar nossas próprias concepções do que é melhor para nós mesmos. <br /><br />Quem contesta que temos que fazer faculdade, porque uma pessoa graduada tem mais "chances" do que um jovem que trabalha no campo? Quem contesta que é possível ser feliz sem ser poliglota?<br /><br />Ora, não que eu não goste de fazer faculdade. Gosto de aprender sim senhor - e muitos podem me abominar por isso. Tenho uma vontade imensa de dominar outras línguas!<br /><br />Mas qual o sentido de ir a faculdade? Qual o sentido de fazer um curso de inglês?<br /><br />Nos últimos dias, tenho notado que é cada vez maior o número de pessoas que não saberia responder a nenhuma das perguntas acima. Dezenas (para não dizerem que sou exagerada, nem coloco milhares) de pessoas vão a faculdade, fazem cursos, trabalham, dormem e acordam...vivem por viver. Sem um objetivo, sem um destino, sem um foco. Para não se sentirem acuadas, muitas dizem que fazem isso ou aquilo por dinheiro. <br /><br />Será que o sentido da sua vida é o dinheiro também?<br /><br />Para desencargo de consciência, reflita: e se tudo - tudo mesmo - acabasse, e só o que restasse fosse a sua conta bancária, ou o seu cofre em formato de porquinho. O que exatamente você faria em seguida? Brincaria de cara ou coroa com as moedas, ou faria origamis com as notas?<br /><br />Existem pessoas que acreditam que o sentido de sua vida é o time de futebol.<br /><br />Assisti a final do Paulista este ano. Me chamou a atenção um torcedor concentrado, que entoava a plenos pulmões que "vivia pelo time". CÉUS, e se o time, por alguma razão obscura, deixasse de existir? Claro que um time tão grande e com uma torcida tão fiel é praticamente eterno. Mas o Barueri, por exemplo...(ver em http://www.abril.com.br/noticias/esportes/futebol/barueri/oficialmente-barueri-deixa-existir-nasce-gremio-prudente-929787.shtml)<br /><br />Existem pessoas que acreditam que o sentido de sua vida é outra pessoa.<br /><br />Apaixonados, iludidos, enamorados. De modo geral, estes sofrem mais. Ao contrário do time de futebol eterno, eles sabem que a qualquer momento podem perder a razão de suas vidas.<br /><br />Existem pessoas que acreditam que o sentido da vida é a religião.<br /><br />Neste caso, o fanatismo acaba sendo uma consequencia. É uma pena que muitas vezes essas pessoas acabem vítimas de exploradores (àqueles, cujo sentido da vida é o dinheiro).<br /><br />Eu poderia passar horas e horas, escrevendo linhas e linahs sobre diferentes estilos. Mas deixei por último aqueles com os quais me identifico mais, e que mais admiro.<br /><br />Existem pessoas cujo sentido da vida é mudá-la, por meio de ideais. <br /><br />São pessoas que não se apoiam em uma única base de sustentação, mas que tentam a cada dia construir novas maneiras de modificar a realidade alienada imposta pela sociedade. Pessoas que criam sonhos coletivos, utópicos talvez, mas que podem trazer bons resultados no futuro. <br /><br />Essas pessoas, claro, não vivem por inércia. Elas regulam a intensidade das ações de acordo com a necessidade de cada situação, e buscam alcançar o bem comum.<br /><br />Você é uma delas, pretende ser, ou quer passar o resto da vida se arrependendo pelo que deveria ter feito?Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-22000576879495977502011-04-23T20:49:00.006-03:002011-04-23T21:49:53.952-03:00Lidando com não-mocinhosHá alguns anos venho fomentando uma crítica muito particular a respeito da pena de morte, mas até então minha unica fonte de informações era um filme, que mesmo após alguns anos ainda me faz refletir.<br /><br />Era uma sexta feira, e possivelmente já passava das onze horas da noite. Deitei em minha cama e resolvi ligar a televisão. O filme já havia começado, mas mesmo assim as cenas prenderam minha atenção. "Os últimos passos de um homem" - (Dead Man Walking/1995) narra a história de Matthew Poncelet, brilhantemente interpretado por Sean Penn. O título sugestivo talvez faça pensar que a história é sobre algum bom homem, injustiçado por algum vilão malvado.<br /><br />E é justamente o fato de a história não ser tão previsivel que a torna tão cativante.<br /><br />Sempre defendi a ideia de que não existem essas caricaturas de vilões e mocinhos, e que todos estamos sempre sujeitos as mais indignas sensações. Não sou nenhuma defensora de criminosos, mas creio que nenhum ser humano é passível de fraquezas e defeitos. <br /><br />Matthew Poncelet se vê prestes a ser executado com uma injeção letal, acusado por ter assassinado dois adolescentes. Sua última e desesperada tentativa é conseguir a ajuda da freira Helen Prejean, interpretada pela atriz Susan Sarandon. <br /><br />Helen Prejean nasceu em Baton Rouge, em 21 de abril de 1939, e é uma freira católica estadunidense. O filme é baseado em fatos reais, já que a freira trocou correspondências com Elmo Patrick Sonnier, sentenciado à cadeira elétrica por assassinato. <br /><br />Após vivenciar de perto diversas histórias, de diversos homens que contavam os últimos momentos de suas vidas, Helen se tornou uma ativista contra a pena de morte e fundou a organização não-governamental Survive.<br /><br />Até assistir o filme, eu particularmente nunca havia refletido sobre este assunto. Talvez porque no Brasil sejamos contemplados com uma Constituição que defende o direito a vida. <br /><br />Não defendo a não punição, ou a imparcialidade. Tenho consciência de que pessoas que agridem, que roubam ou que cometem outros tipos de delitos devam se afastar do convívio social - mas seria a morte a solução dos problemas? Que tipo de vantagem isso traria para nossa sociedade?<br /><br />Se tomarmos como base um sistema corrupto, onde os detidos são isolados em meios que estimulam ainda mais os piores instintos que possuem ou que simplesmente os ignoram, sem oferecer uma maneira de se recuperarem e se tornarem pessoas produtivas para sua comunidade... realmente, a pena de morte se mostra como uma solução plausível para o corte de gastos públicos, para a "eliminação do mal pela raiz". <br /><br />Mas e se tomarmos como base um sistema eficiente, onde os detidos tenham acompanhamento psicológico, educacional e, porque não, religioso? Onde eles possam, ao invés de se tornarem gastos públicos, trabalharem e produzirem bens?<br /><br />Pode parecer utópico. Claro, infelizmente ainda estamos presos àquele sistema corrupto e, porque não, fácil. Ora, é muito mais fácil manter tudo como está, e simplesmente deixar que a cada dia mais pessoas sejam presas, e soltas, e presas novamente.<br /><br />Quantas "passagens" pela prisão uma pessoa tem que ter, até que o Estado perceba que esta não é a melhor maneira de lidar com pessoas?<br /><br />Para ajudar a questionar a respeito deste tema, tive o prazer de assistir a peça "Doze homens e uma sentença", que também aborda o assunto sobre parâmetros diferentes dos quais estamos acostumados a lidar. <br /><br />Aqueles que estiverem dispostos, aceito argumentos que me façam mudar de ideia...Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-66133251851955852982011-03-13T18:24:00.002-03:002013-12-29T11:15:24.574-02:00Álbum de figurinhas<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_uK_SaBpbjEYma-2Tj45sYksrp4wOVnyIcZiIiQmkiZOrEqaW7iHN9ayKJBF4vjlLKL7i7PNIN2tW9Ofi-3lnPKvEmaXTXzUdaQmdn5poUGvbIfZzxMTJWNH_lremJH9A4TehS1qWmwbp/s1600/Album.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_uK_SaBpbjEYma-2Tj45sYksrp4wOVnyIcZiIiQmkiZOrEqaW7iHN9ayKJBF4vjlLKL7i7PNIN2tW9Ofi-3lnPKvEmaXTXzUdaQmdn5poUGvbIfZzxMTJWNH_lremJH9A4TehS1qWmwbp/s320/Album.jpg" width="246" /></a><span style="font-style: italic;">Ao longo da minha vida tenho criado várias teorias, e costumo compartilha-las com os mais próximos. Uma delas é sobre o Álbum de Figurinhas.<br /><br />Adoro analogias e metáforas, e esta é particularmente uma das minhas favoritas.<br /><br />Quando criança, eu adorava figurinhas e, consequentemente, seus respectivos álbuns. Tive álbuns diversos - Rei Leão, Pokemón, Copa do Mundo... - mas creio que nunca completei nenhum deles. Isso nunca me frustrou, porque sempre havia um novo álbum a ser completado, e rapidamente eu esquecia o antigo. Às vezes o encontrava no fundo de uma gaveta velha, folheava suas páginas, e guardava em seguida.<br /><br />Infelizmente, minha vida costuma ser semelhante ao Álbum de figurinhas.<br /><br />Sempre acreditei que as pessoas fossem insubstituíveis, assim como as figurinhas. <br /><br />Quando as conquistamos e colocamos em seu espaço reservado, as contemplamos e nos orgulhamos de tê-las ali. Exibimos aos outros, esperando ouvir elogios. Claro, damos atenção privilegiada às especiais - aquelas que foram obtidas com maior dificuldade, nem sempre as mais bonitas... - e nos enfadamos com as repetidas. Trocamos. Destrocamos. Mas nunca pelas mesmas, porque apesar de parecidas, elas não são efetivamente iguais.<br /><br />Por fim, trocamos de álbum.<br /><br />Sempre tive dificuldade em manter mais de um álbum; ou concentrava todos os meus esforços em manter um, ou não tinha nenhum. Infelizmente, meu ciclo de amizades também era assim.<br /><br />Admirava aqueles que conseguiam manter contato com pessoas durante tanto tempo seguido! Eventualmente, eu conseguia entrar em contato com amigos distantes - mas em seguida, eles desapareciam outra vez! Como uma rápida folheada em álbum antigos, para matar a saudade...<br /><br />Por mais difícil que seja admitir a metáfora, ela existe: sim, eu crio Álbuns de Figurinhas. Gostaria muito de tê-los completado, de admirar minhas figurinhas com mais frequência... Mas é tão difícil!<br /><br />Agora estou montando um novo Álbum. Ao longo do tempo, aperfeiçoei minhas técnicas. Estou tentando mantê-lo vivo, e não pretendo deixar que o tempo o faça perder sua importância. Se possível, trarei algumas figurinhas antigas para colar nele...</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_uK_SaBpbjEYma-2Tj45sYksrp4wOVnyIcZiIiQmkiZOrEqaW7iHN9ayKJBF4vjlLKL7i7PNIN2tW9Ofi-3lnPKvEmaXTXzUdaQmdn5poUGvbIfZzxMTJWNH_lremJH9A4TehS1qWmwbp/s1600/Album.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><span style="font-style: italic;"></span></div>
Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-78669003531240626262011-02-26T17:35:00.000-03:002011-02-26T17:37:11.599-03:00Momento (raro) de poesiaEm meio as mais densas nebulosas da minha vida, eis que surgiu, de repente, um lampejo de luz: a princípio, duvidei e fugi, temendo que o clarão pudesse me cegar. Mas o calor trazido com a luz era forte e atrativo, e me rendi aos encantos daquela novidade. Confesso que por vezes me queimei, mas o medo de perder o acolhedor calor daquela luz me fazia suportar os momentos de dor. Por vezes temi que a luz se apagasse, e a ela me agarrava fortemente. Mas eis que um dia não pude evitar... e ela se foi. A nebulosa voltou, mas não tão densa quanto antes, já que o calor ainda permaneceu pairando no tempo. Outros lampejos apareceram, mas não tão intensos quanto o primeiro. Descobri que seria difícil me acostumar a sua ausência... mas não impossível. E aos poucos, comecei a descobrir minha própria luz, que se mostrou forte e duradoura... e que me permitiu proseguir...Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-57032523772888476562010-11-20T10:19:00.003-02:002011-01-12T18:39:31.280-02:00VoluntariadoEsta semana apresentei em uma palestra na faculdade um pouco sobre minhas experiências com voluntariado... Como nem todos puderam assistir - competir com o jogo do Brasil não é fácil - resolvi escrever um pouco sobre o que falei...<br /><br />Quando digo que há cinco anos faço trabalho voluntário, muitos me olham com espanto. Primeiro pensam 'ora, que moça mais conservada! Trinta anos, com cara de vinte!'. Isso porque 'trabalho' requer responsabilidade e, portanto, 'deve ser uma atividade restrita a pessoas adultas'.<br /><br />Mas eu tinha apenas treze anos quando fui convidada a participar de um evento voluntário. Durante essa fase muitos jovens constumam gastar seu tempo ocioso fazendo atividades pouco saudáveis - muitos começam a usar drogas, outros adentram no mundo da criminalidade - sendo que poderiam usar este tempo participando de ações comunitárias, por exemplo. <br /><br />Eu não sabia até então o que era ser voluntário. Só comecei a entender o significado desta palavra após participar do primeiro evento, que ocorreu em uma associação para dependentes químicos e portadores de HIV. Eu temia não poder contribuir de forma alguma no evento, já que não sou cantora, dançarina, artista circence e na época era apenas uma estudante do ensino fundamental. Mas me surpreendi: lá eu encontrei pessoas que se alegraram com minha presença, e que se satisfizeram com minha atenção. <br /><br />Portanto, o que é o trabalho voluntário?<br /><br />Se desmembrarmos, a compreensão fica mais fácil: o que é o trabalho? É quando alguém vende um serviço, um dom ou uma habilidade a outrem. Afinal de contas, vivemos em um sistema capitalista cujo principal personagem é... o capital! E por isso, tudo, ou grande parte das nossas atividades giram em torno dele. <br /><br />Mas nosso sistema capitalista não é perfeito, certo? Creio que todos já tenham notado que vivemos em um mundo extremamente desigual, onde apenas dois por cento da população detem metade da riqueza mundial. Isso não precisa ser notado apenas por meio de números de estatísticas: basta olharmos para as construções em áreas de risco, para as crianças nos semáfaros e para os moradores de rua embaixo das pontes.<br /><br />Ora, se todo ser humano necessita de serviços para ter uma vida digna, e se no nosso sistema é necessário que, para obtermos esses serviços, precisemos pagar por eles, como essas pessoas que não tem O CAPITAL poderão viver?<br /><br />É neste ponto que surge o trabalho voluntário. <br /><br />Ele é o elo entre aqueles que não podem pagar por serviços e aqueles que podem - e querem - oferecê-los.<br /><br />Mas, para desencargo de consciência, muitos podem pensar: 'ora, eu pago impostos! Ajudar essas pessoas é papel do governo, do Estado, dos representantes que elegemos!'. <br /><br />A essência do trabalho voluntário está em um sentimento único, que é pouco reconhecido e divulgado: a consciência social. Aquele que a possui sabe que a sociedade não é um termo alheio, que diz respeito a "eles"; a sociedade é um grupo no qual todos nós fazemos parte. O consciente sabe que o fato de um mendigo estar pedindo comida em frente a estação de trem não é somente um problema do governo, porque ele de alguma forma estabelece uma relação entre todos os seres com quem convive em todo o planeta, independente de suas condições de vida. Somente o consciente social é capaz de notar que o que importa, o que realmente gera prazer ao realizar um determinado trabalho é o sentimento de construção, seja ela de cidadania, de bem estar a alguém, ou de qualquer outro propósito maior. <br /><br />Não defendo que todos abandonem seus trabalhos remunerados e que se ponham a ajudar os demais a diminuir as desigualdades da sociedade. Também não defendo os falsos voluntários, que buscam enriquecer sua imagem e seu currículo por meio do trabalho voluntário. Mesmo porque, é fácil diagnosticar os falsos voluntários, porque eles não possuem consciência de suas ações e acabam se entediando com facilidade. Não os culpo: eu não era consciente de minhas ações aos treze anos. Fazia por egoísmo, porque eu me sentia bem em realizar essas atividades. E foi o tempo que me trouxe os entedimentos necessários para compreender os motivos das minhas ações. <br /><br />Há pouco tempo, nas aulas de Economia, vimos que os liberalistas defendiam que todo homem era egoísta por natureza. A princípio, isso justificou meu interesse em fazer trabalho voluntário, já que eu sentia bem-estar ao fazê-lo. Mas após muitas reflexões, tive que discordar dos estudiosos: não creio que todo ser humano seja egoísta por natureza, e sim que a sociedade defende e incentiva o egoísmo, o individualismo e, consequentemente, o consumismo. Lamento que os liberais não tenham conhecido Madre Teresa de Calcutá, ou Mahatma Gandhi. Que explicação eles dariam ao fato de um ser humano abrir mão de bens materiais, ou deixar de comer por dias, em nome de uma causa social? Em benefício de um grupo, e não apenas em benefício próprio?<br /><br />Creio que uma simples postagem não seja capaz de elucidar todas as minhas opiniões a respeito de um tema tão vasto e digno de discussão, mas espero ter contribuido para que os leitores tenham algumas reflexões. Gostaria de concluir com a frase do já citado Gandhi: "Felicidade é quando o que você pensa, o que você diz e o que você faz estão em harmonia".Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-71206482135128822382010-11-13T18:50:00.002-02:002010-11-13T19:47:49.639-02:00LivrosNão sei se já comentei, mas uma de minhas maiores paixões é a leitura. Infelizmente este ano a falta de tempo me impediu de ler o quanto eu gostaria, mas mesmo assim, tive o privilégio de ler ótimos livros. Gostaria de compartilha-los!<br /><br />O símbolo perdido - Dan Brown<br />Tive a oportunidade de ler outros livros de Brown, mas este rapidamente se tornou um de meus favoritos. É incrível como as histórias por ele narradas nos permitem adentrar em locais desconhecidos: ao término da leitura, eu senti como se acabasse de sair das ruas de Washington. Correndo, diga-se de passagem. Não sei se sou anormal, mas li este livro em menos de uma semana... Impossivel perder o ritmo e não acompanhar o professor Langdon em suas buscas e descobertas. Mas o grande trunfo deste livro é, sem dúvida, os recursos tecnológicos nele mostrados.<br /><br />O monge e o executivo - James Hunter<br />Tempos atrás, um livro com este título não me seria muito atrativo. Mas graças a indicação do professor de Administração, Sr. Jonas Prado (leiam o livro dele!), resolvi comprá-lo e lê-lo. Garanto que nele existem histórias, frases e lições que podem mudar nossa forma de ver o mundo. Até então, eu jamais havia reparado o quão egoistas podemos ser quando, por exemplo, dizemos que uma foto coletiva ficou feia só porque não saimos como desejávamos.<br /><br />Zona Morta - Stephen King<br />Sei que é um tanto vergonhoso admitir mas... este foi o primeiro livro que li do grnade Stephen King. Eu já conhecia a fama do escritor, mas sempre fui um pouco medrosa em relação a histórias de suspense. Quando vi este livro perdido sobre uma das prateleiras do Sebo, logo me recordei da série que assistia alguns anos atrás: "O vidente". Ela foi baseada no livro de King! E eu só descobri isso quando vi que o nome da personagem principal era o mesmo... John Smith. E para aqueles que são tão medrosos quanto eu, não é preciso ter pânico: as "cenas" não são apelativas. O terror de King é psicológico...<br /><br />O morro dos ventos uivantes - Emily Jane Brontë<br />O segundo classico que li este ano foi um dos melhores romances que já li. Não costumo ser muito sensível, mas admitido que chorei horrores lendo esta história. Talvez porque estamos muito acostumados com novelas açucaradas e, quando nos deparamos com histórias de amor (o sentimento real, e não a palavra usada de forma tão arbitrária atualmente) ficamos encantados ao imaginar que, talvez, seja realmente possível que duas pessoas se amem de verdade.<br /><br />1984 - George Orweel<br />Mais uma vez, é um pouco vergonhoso admitir que a essa altura de vida eu ainda não lera este clássico. A sociedade imaginada pelo autor já me era um pouco familiar, semelhante a que eu vira na obra de Aldous Huxley, "Admirável Mundo Novo". O melhor, em ambos os livros, é adentrar nesses diferentes mundos e se colocar nos corpos dos protagonistas, tentando entender suas ações e, principalmente, como conseguem - ou não - sobreviver diante de tantas privações de liberdade, desilusões e barreiras. A descrição dos autores garante que o leitor se sinta coagido, injustiçado e sufocado diante do sistema.<br /><br />Estes foram os melhores livros que li este ano! Quando ler outros, farei novas postagens!Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-17424615477938331272010-07-16T21:02:00.000-03:002010-07-16T21:12:33.489-03:00Vacatio gratisTenho um sério problema com férias. Já dizia... alguém (não lembro, mesmo) que só rico tem férias. O que não é o meu caso. Programa de não-ricos durante as férias: televisão, cinema aos finais de semana, casa da vó quando a grana tá curta.<br /><br />Eis o problema da ausência de dinheiro em nossas contas bancárias. Durante essas férias tenho pensado muito sobre as possibilidades que surgiriam caso eu tivesse dinheiro para "ter férias": viagens por lugares maravilhosos e paradísiacos...Europa, Egito, Disney, Dubai!<br /><br />Mas já dizia um outro alguém (este eu lembro! O autor do livro "O monge e o executivo") que as melhores coisas da vida são grátis.<br /><br />Por isso resolvi afastar essas ideias capitalistas da minha cabeça. Me inscrevi em um curso de italiano online... GRÁTIS, comecei a fazer aulas de violão e dança... GRÁTIS, visitei familiares e comi coisas maravilhosas...GRÁTIS.<br /><br />Acho que ele estava certo. Pelo menos, a teoria está funcionando e minhas férias estão bem menos entediantes!Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-38619244835925418232010-07-09T10:44:00.000-03:002010-07-09T12:11:44.662-03:00TarantinismoTenho que confessar que adoro assistir CSI. Vício de todos os dias. E esta semana fui contemplada com o melhor episódio da série, escrito por Tarantino: "Perigo a sete palmos". Quem tiver a oportunidade de assistir, o faça.<br /><br />Entretanto, enquanto passava pela sala, ouvi o comentário de um jornalista: "Nem mesmo o episódio de Tarantino foi tão horrível como o Caso Bruno".<br /><br />Não conhecia, até então, muitos detalhes sobre o caso. Mas com base nessa declaração, e em algumas manchetes do Google News, me informei sobre o que estava acontecendo.<br /><br />A menos que a imprensa esteja expeculando demais, devo admitir que a história é realmente merecedora do comentário do jornalista.<br /><br />Um detalhe que chamou minha atenção foi o salário do jogador: 200 mil reais por mês. Se formos parar para pensar, quantos trabalhadores passam anos para juntar metade deste valor, e sustentar suas famílias?<br /><br />Esses mesmos trabalhadores devem olhar horrorizados para essa história, repetida sucessivas vezes pela mídia sensacionalista, e devem pensar o quanto a vida é injusta. Talvez alguns se solidarizem com o jogador, lamentando que o talentoso rapaz tenha estragado a carreira...<br /><br />Mas apesar desta contante descarga de informações - sejam elas, verídicas ou não - incomodar muitas pessoas, a maior parte da população se sensibiliza e clama por justiça. Menos mal.<br /><br />Não suporto mais ver este tarantinismo invadindo a realidade.Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-76818941450629082192010-07-06T18:23:00.000-03:002010-07-06T18:39:10.959-03:00Patriotismo e copa do mundoTenho um amigo com quem costumo ter discussões muito interessantes a respeito das coisas mais imprevisíveis. E como não poderia deixar de ser, resolvemos falar sobre a Copa do Mundo também.<br /><br />Eis que no memorável dia 02/07, minutos após assistirmos a derrota do Brasil diante da Laranja Mecânica, ele me presenteou com a seguinte frase: "onde está o seu patriotismo agora?".<br /><br />Claro que não consegui me conter e comecei a argumentar milhares de maluquices, com o objetivo de convecê-lo a mudar o subnick de seu MSN. Claro que minhas tentativas foram em vão. Nem mesmo Aurélio pôde me salvar; ele apenas diz que o patriotismo é o "amor da pátria", "qualidade do patriota". E patriota é justamente aquele sujeito que "ama a pátria e procura servi-la". Retruquei dizendo que ele estava confundindo este "amor" com patrioTICE, que, também segundo Aurélio, é um falso patriotismo.<br /><br />Estes torcedores alucinados amam a pátria, ou amam as pernas dos jogadores e seus patrocinadores? Amam as cores da bandeira, se emocionam ao ouvir o hino nacional, ou choram pela derrota por saberem que não serão dispensados da escola ou do trabalho?<br /><br />Acho que aí sim, devo concordar, toda essa patriotice insuportável deve ter se esvaído, juntamente com a seleção.<br /><br />Mesmo não convencendo meu amigo, fiquei satisfeita em decobrir que o verdadeiro patriotismo não deve ser confundido com essa patriotice insuportável, que contribui para que pessoas violentas utilizem o futebol como pretexto para agir sem pensar...Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1915704907927024065.post-84007261947607529672010-06-07T09:42:00.000-03:002010-06-07T09:48:29.225-03:00Apresentação<em></em>Não resisti. Pensei em esperar alguns anos, mas não vi mal algum em começar a publicar - aos poucos - os textos que, há algum tempo, escrevo. Não pensem que vocês encontrarão aqui histórias mitológicas (quem sabe um dia?), fantasias... Na verdade, a maioria dos textos que escrevo é parte do meu banco de dados pessoal. Em outras palavras, faz parte da minha memória. Espero que gostem!Angélicahttp://www.blogger.com/profile/11056992836120025478noreply@blogger.com1