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quarta-feira, 11 de julho de 2012

O dono da ideia

Tudo estava muito quieto. Ele estava deitado ao lado da cama do irmão, que milagrosamente não roncava aquela noite. Já se passava das quatro horas da manhã, e aquela maldita insônia não o deixava dormir de jeito algum.

Ele não conseguia impedir aquele combate de vozes lutando em sua cabeça. Às vezes eram lembranças do que acontecera horas antes, ou até mesmo na semana anterior. De repente, mais alto, ele ouvia a própria voz tentar dominar aquela grande bagunça que se formara em sua cabeça. Voltava ao quarto escuro, e tinha medo que as crises de síndrome do pânico voltassem. Antes que o calor começasse a subir pela sua nuca, e aqueles pensamentos o fizessem acreditar que estava louco, acendeu a luz.

A claridade do ambiente permitiu que seu medo e sua respiração se controlassem. O irmão se revirou em sua cama, mas pareceu não acordar. Melhor assim.

No criado mudo havia uma folha de papel branco rabiscada, mais ainda restava um espaço branco no fim. A gaveta rangiu de velhice quando ele a abriu e tateou em busca de algo com que pudesse escrever.

Faltaram-lhe palavras. Elas eram tão delatoras, que ele achou melhor não escrever nada. Desenhou traços e mais traços, sem notar exatamente que forma construía.

Não sabia ao certo quanto tempo se passara quando a explosão aconteceu. Sim, porque fora como uma grande explosão; tudo se iluminara, e ele podia sentir a força e a energia.

Não era uma ideia qualquer. Era algo inovador, algo incrível, que com certeza o tornaria alguém muito importante. E ele com certeza ficaria milionário com aquela ideia. Mas e se alguém a descobrisse? E se quisessem roubá-la? Não, ele não deixaria. Teria de escondê-la de alguma forma. Mas se a escondesse.... Como saberiam o quão inteligente era seu criador? Como ele ganharia seu dinheiro?

O medo de que o descobrissem dominou-o por completo, e quando ele percebeu, estava prestes a rasgar o papel. Em pânico, desamassou-o. Trêmulo, pegou seu celular sobre a cabeceira e ligou sua câmera. Sim, ele iria tirar uma foto. Teriam que acreditar na data e no horário, saberiam que ele fora o primeiro a ter a grande ideia. E ele seria o dono dela, mais ninguém. Patentearia, caso fosse necessário.

O celular caiu de suas mãos.

- Mas o que é que você está fazendo a essa hora?

O susto não fora maior do que o terror que sentiu ao ver que seu irmão acordara. Como poderia esconder a ideia dele? Ele faria perguntas e mais perguntas.... Irmãos adoram fazer perguntas... E se ele quisesse tomar-lhe a ideia?

Teve que conter-se para não cair aos prantos.

- Que nervosismo é esse? Você viu alguma coisa? Está com medo?

- Não, eu só estava rabiscando. Só rabiscando, para dormir. Queria dormir, mas não consigo.

- O que você está rabiscando? Quero ver.

Ele não lutou, entregou o papel. Não tinha como lutar com ele.

O irmão olhou o papel e seus olhos se iluminaram.

- Que bacana! Onde você viu isso?

- Não vi nada não, nada. Saiu da minha cabeça, a ideia é minha. Eu que fiz, sou o dono dela.

O irmão soltou uma gargalhada assustadora.

- Como assim sua? Ninguém tem ideia nenhuma cara. Olha só, quando você nasceu, já existia muita gente no mundo. Tiveram que te ensinar as coisas, não foi? Se não tivessem te ensinado as coisas, você não ia saber nem falar. Ou você viu isso em algum lugar, ou viu algo parecido.

Ele sentiu raiva, e quase esqueceu-se de seu tamanho para atirar-se contra o irmão. Mas não podia fazê-lo antes de recuperar seu papel.

- Nunca vi nada parecido. Não copiei de ninguém.

- Tudo bem, mas você deve ter se inspirado em alguém, ou alguma coisa. Mas não precisa ficar bravo, isso não quer dizer que tenha menos valor por isso. É bacana de qualquer jeito. Você vai colocar na internet?

- Não. Não vou, não quero que roubem minha ideia.

Mais uma vez aquela gargalhada.

- E quem disse que se roubam ideias? Ideias não são roubadas... ideias são compartilhadas. Pára com isso... Imagina se o cara que inventou o fogo tivesse pensado assim? E a eletricidade? E tudo? A gente não teria História! Seríamos todos animais selvagens... ou não teríamos avançado de forma alguma em relação a tecnologias, ou qualquer outro tipo de coisa...

Por um momento, parecia que havia algum sentido no que o irmão dizia. Mas ainda assim... E se ele estivesse querendo roubá-la, para ficar como todo o dinheiro para si?

- A ideia é minha. Vou patenteá-la. E vou ganhar dinheiro com isso.

Dessa vez, ele não gargalhou.

- Então é isso? Toda essa aflição, por que você quer ganhar dinheiro com sua ideia... Vamos pensar o seguinte. De qualquer forma, para que você ganhe dinheiro com ela, você terá que compartilha-la. Se você compartilhar com alguns poucos milionários, eles até te pagarão por isso. E eles vão usar sua criação como eles quiserem. Podem até matar um monte de gente com isso. Agora, vamos supor que você compartilhe com o mundo inteiro. É provável que alguns tomem seus créditos por sua obra - mas geralmente acabam descobertos. Mas todos terão acesso a sua genialidade, e poderão se beneficiar dela. Se alguns tentaram usá-la para fazer coisas ruins, outros tentarão usá-la para o bem. E isso vai ajudar, de alguma forma, na construção da História! Será que você consegue perceber isso, ou prefere continuar sendo egoísta?

Ele não respondeu. O irmão lhe entregou o papel e virou-se para dormir.

Passou ainda algum tempo olhando para o papel, antes de adormecer. Quando acordou, não encontrou papel algum. Tentou recordar-se de sua ideia, mas nada veio a mente. Buscou encontrar embaixo da cama e dos móveis o papel perdido, mas nada apareceu. Teria sido algum sonho? Ou teria ele enlouquecido como sempre temera?

Acordou o irmão e lhe perguntou sobre o que acontecera. Ele resmungou que não se lembrava de nada, e que devia ser mais um de seus ataques de sonambulismos.

Mas ao invés de irritar-se, o dono da ideia sorriu. Ficou aliviado por não ter que tomar uma decisão tão importante. Vestiu seu uniforme e foi para a escola.

O irmão ficou sentado na cama, e refletiu durante muito tempo. Pegou o papel amarrotado no bolso, e admirou-o. Pensou se fizera o correto... E concluiu que sim. Afinal de contas, seria uma grande frustração para um garoto de sete anos descobrir que a máquina de escrever se tornara um objeto tão obsoleto.




sexta-feira, 20 de abril de 2012

Boicote às farsas

O mais estúpido mal que nos persegue desde muitos anos antes de qualquer referencial de tempo da história da humanidade é, sem dúvida alguma, a farsa.

Sento-me aqui hoje para declarar meu asco a todo e qualquer tipo e nível de farsa. Faço questão de enumerá-las para que elas sejam mais visíveis a nossos olhos míopes... e não digo isso por efetivamente ter a visão turva pela miopia, mas porque se torna cada vez mais nítido o quanto a sociedade de hoje se cega ante fingimentos e ilusões. Já nos trouxe Saramago o "Ensaio sobre a cegueira", para que pudessemos ao menos reconhecer nossa alienação... Hoje venho expôr algumas dessas farsas que tem me aflingido nos últimos dias ou anos... primeiro porque essas semanas por algumas vezes já perdi a voz de tanto repeti-las àqueles que tiveram a paciência de ouvi-las, e também porque tenho uma devoção sem tamanho ao poder da palavra escrita e por sua amplitude, que rompe barreiras temporais ou geográficas.

Muitos começariam por destacar que a pior das farsas é a dos políticos e governantes, que já se tornaram em nosso país o esteriótipo para a figura do malandro desonesto. Não vou defendê-los aqui, e tampouco os atirarei pedras. Mesmo porque, existe farsa pior do que apontar os defeitos e pecados alheios, eximindo a si mesmo de culpa? Sim, os elegemos. Sim, somos nós quem devemos destituí-los.

E o que dizer sobre a farsa da educação? Ora, não é preciso ser mestre ou doutor para saber que o conhecimento é o que move o ser humano, que nossa capacidade de transmitir nossas aprendizagens às gerações futuras é o que nos difere como racionais. Mas o que dizer sobre os falsos sistemas de ensino que alienam os estudantes, ao invés de torná-los críticos? Que os segregam, ao invés de estimulá-los ao convívio social? Que os tornam passivos, ao invés de estimulá-los na busca pela criatividade, pela inovação e pela arte?

O que dizer sobre a farsa dos profissionais? Os falsos professores, que fingem serem educadores? Pior ainda, os falsos estudantes, que simulam um aprendizado inexistente. Mas ainda há quem diga que a verdadeira educação ''vem do berço''. E o que dizer dos falsos progenitores, que fingem educar seus filhos?

Não podemos esquecer também da farsa nas relações cotidianas. O que dizer dos falsos sorrisos? E pior ainda, dos falsos amores? Como não repudiar a farsa dos enamorados que não amam, dos médicos que não curam, dos padres e pastores que fingem fazer pregações, das ONGs cujos presidentes matam elefantes, dos ricos filantropos, dos países ricos com população alienada, ou dos países pobres com população miserável, cujos governos enriquecem as custas da fome e da guerra. Ah, como poderíamos esquecer!

A grande farsa, que nos persegue e nos acompanha ao longo de toda a nossa história. A maior farsa de todas, que todos temem, mas que parecem não reconhecer sua razão de existir. Tivemos a primeira, a segunda, damos nomes e apelidos a elas. Buscamos culpados, protagonistas e vilões. Conseguimos até criar jogos estratégicos que nos tornem capazes (?!) de sobreviver a elas. Quer maior farsa do que criar um cenário grandioso que possa ser palco para que falsos herois - que na verdade são vítimas de uma jogo de interesses políticos e individuais -  possam lutar por um objetivo maior e coletivo, que na realidade não passa de um enorme pretexto para alimentar as bocas famintas de uma minoria necessitada de poder.

Chegamos, enfim, a farsa do capitalismo globalizado. E antes que indaguem, também enumero aqui as farsas dos regimes que fingiram usar os conceitos de Marx. Trago aqui a farsa das mídias compradas, do jornalismo manipulador, dos comentaristas com falsos argumentos. Trago a farsa da censura... E não digo só aquela que conhecemos pelos registros históricos da ditadura, mas também a silenciosa, que nos impede de dizer o que pensamos por medo de sermos coagidos por falsos moralismos.

Diante de tantas farsas, muitos podem ter uma visão pessimista sobre o contexto em que vivemos. Ora, tudo isso está aí, e é real. Mas não está acabado. O tempo não é finito, ele nunca "está acabando". Por mais que a vida de cada um de nós seja limitada, as ações que fazemos hoje podem ter resultados refletidos muito além do que imaginamos. É realmente preciso mudar. Está na hora que acabar com as farsas. E nenhuma delas é magna o suficiente que não possa deixar de existir. E eu não tenho que virar um mártir para contribuir para que isso aconteça. Posso simplesmente deixar de fingir amores que não existem. Posso deixar de sorrir quando não quiser fazê-lo. Posso deixar de comprar um roupa de marca, para deixar de fingir que aquilo me torna alguém melhor. Posso.

E podem dizer que o mundo perfeito nunca vai existir, e que as farsas nunca acabarão. Também podem. Mas eu tenho a ligeira impressão de que a cada momento que uma farsa - por menor que seja - deixa de existir, uma parte do mundo está melhor. E isso já me deixa plenamente satisfeita.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

aFinitude



Estes dias me dei conta que o amor e o tempo são as mais importantes linhas que erguem cada uma das partes de nossos membros de marionete. Essas linhas determinam se nossos ombros estarão levantados, e se os cantos de nossas bocas estarão erguidos formando covinhas.

O movimento circular dos ponteiros pode ser um martírio em momentos entediantes, que podem ser palestras de pseudo-sabichões, ou até mesmo ações repetitivas de uma linha de produção capitalista. Desejamos que o mundo real torne-se ficção só para que possamos apertar o botão do controle remoto, de modo que tudo passe mais rápido e cheguemos logo ao fim.

Mas que fim?

Para alguns, o fim de um momento entediante pode acontecer com a chegada de algo – ou alguém – que possa gerar um pouco de satisfação, alegria, felicidade. Nessas horas quebramos o relógio. Queremos que os limites dos horários voem pelos ares. E a linha do amor nos ergue a um plano maior, onde podemos ser aquilo que queremos sonhar com o que desejamos.

Mas antes que alcancemos nosso nirvana, eis que o despertador toca.

Se não bastassem criar amarras para nos prenderem aos relógios, ainda colocaram um alarme para que não possamos nos livrar de sua existência!

E diante da sirene assustadora, caímos de volta à existência sistemática. É a vez de a outra linha nos guiar ao cotidiano, ao rotineiro.

Muitos devem se questionar: por quê? Por que se prender ao tempo? Ora, porque não somos para sempre. Porque, uma hora, o tempo acaba não é mesmo?

Não!

O tempo nunca acaba. Nós é que delimitamos o tempo. O enclausuramos em nossos relógios e agendas, tornando-o mais finito do que nós mesmos. E junto a ele, delimitamos nossos sonhos e nossas vidas.

Não seriamos mais felizes se simplesmente... vivêssemos?

Afinal de contas, como já diria o poeta: “que seja eterno enquanto dure”...



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Doença antídota

Desde os mais longínquos tempos que minha memória pode alcançar
Idealizei uma figura fabulosa e indefinida
Que protagonizaria momentos diversos de minha vida.
Tão forte foi o desejo de que o incrível se tornasse real
Que quando menos esperava, eis que ele me surgiu.

Tão logo pude confirmar sua veracidade,
Temi me tornar submissa e vulnerável.
Relutei contra o magnetismo assombroso que me fazia ansiar desesperadamente por sua presença.
Fugi de todos os caminhos cujo destino fosse encontrá-lo, embora soubesse que era nos atalhos onde ele me esperava.
Sorrindo.
Tentei dispersar de meus pensamentos a constante imagem de sua face,
Mas o vento me trazia sua voz, o ar me trazia seu cheiro,
E a todo instante sua presença estava cada vez mais enraizada em mim.

De súbito me vi prisioneira,
Acorrentada a um elo tão invisível quanto rígido,
Tão inexistente quanto inexplicável.
Busquei formas de me convencer do quanto esta prisão me entorpecia.
Mas este entorpecimento me inebriava.
Aos poucos me dei conta de que este ópio sedutor que me causava devaneios
Era o mesmo que me corroia nas noites mais escuras e frias,
Quando a solidão e o silencio me faziam lembrar minha condição vassala,
Própria daquele que se doa sem pedir recompensa,
Que se contenta com a esmola de um pequeno gesto ou sorriso.

Se não bastasse o sofrimento causado pelo confinamento,
Ver-te a despejar encantos em outros vasos, em outras docas,
Fazia-me desejar que todo o mar secasse
Só para que o fluido de seus olhos seguisse para minha própria foz.

Mas jamais tive intento de lhe revelar.
O orgulho comprimia-me a garganta,
A voz pendia entre os lábios, sem deixar as palavras saírem.
Tive medo, me contive.

E por isso, o perdi.

Passado o tempo, notei que o elo se tornara um fino fio de cobre,
Resistente, maleável.
Decidi que era o momento de o quebrar,
De me livrar de todo o tormento que me prendia a uma ilusão.

Foi quando notei que a angústia de jamais se libertar
Era insignificante perto do medo de perdê-lo.

Vi-me novamente presa, acorrentada,
Ansiando por uma forma de curar todas as moléstias causadas por esta doença antídota
Singular, centenária, vital.
O amor?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Antinércia

Você já parou para pensar qual o sentido da sua vida?

Muitas pessoas com quem convivo vivem por inércia. Muitas vezes já tive que me dar safanões por quase me contaminar por essa maldita praga da passividade, que nos leva do nada para lugar algum.

Quando crianças somos condicionados a nos adaptar às condições impostas pela sociedade. Aprendemos que é bom comer verduras, que quem vai para a escola é bonzinho, e que crianças educadas ganham presente do Papai Noel no final do ano.

Mas com o passar dos anos... Somos obrigados a tomar conta de nossas vidas. Temos que tomar nossas próprias decisões, e as consequencias de nossos atos serão de responsabilidade nossa.

Mas e o medo de tudo dar errado? E o medo de sermos discriminados? Eis que somos levados por inércia, seguindo tudo o que nos foi ensinado que é certo e perfeito, sem criar nossas próprias concepções do que é melhor para nós mesmos.

Quem contesta que temos que fazer faculdade, porque uma pessoa graduada tem mais "chances" do que um jovem que trabalha no campo? Quem contesta que é possível ser feliz sem ser poliglota?

Ora, não que eu não goste de fazer faculdade. Gosto de aprender sim senhor - e muitos podem me abominar por isso. Tenho uma vontade imensa de dominar outras línguas!

Mas qual o sentido de ir a faculdade? Qual o sentido de fazer um curso de inglês?

Nos últimos dias, tenho notado que é cada vez maior o número de pessoas que não saberia responder a nenhuma das perguntas acima. Dezenas (para não dizerem que sou exagerada, nem coloco milhares) de pessoas vão a faculdade, fazem cursos, trabalham, dormem e acordam...vivem por viver. Sem um objetivo, sem um destino, sem um foco. Para não se sentirem acuadas, muitas dizem que fazem isso ou aquilo por dinheiro.

Será que o sentido da sua vida é o dinheiro também?

Para desencargo de consciência, reflita: e se tudo - tudo mesmo - acabasse, e só o que restasse fosse a sua conta bancária, ou o seu cofre em formato de porquinho. O que exatamente você faria em seguida? Brincaria de cara ou coroa com as moedas, ou faria origamis com as notas?

Existem pessoas que acreditam que o sentido de sua vida é o time de futebol.

Assisti a final do Paulista este ano. Me chamou a atenção um torcedor concentrado, que entoava a plenos pulmões que "vivia pelo time". CÉUS, e se o time, por alguma razão obscura, deixasse de existir? Claro que um time tão grande e com uma torcida tão fiel é praticamente eterno. Mas o Barueri, por exemplo...(ver em http://www.abril.com.br/noticias/esportes/futebol/barueri/oficialmente-barueri-deixa-existir-nasce-gremio-prudente-929787.shtml)

Existem pessoas que acreditam que o sentido de sua vida é outra pessoa.

Apaixonados, iludidos, enamorados. De modo geral, estes sofrem mais. Ao contrário do time de futebol eterno, eles sabem que a qualquer momento podem perder a razão de suas vidas.

Existem pessoas que acreditam que o sentido da vida é a religião.

Neste caso, o fanatismo acaba sendo uma consequencia. É uma pena que muitas vezes essas pessoas acabem vítimas de exploradores (àqueles, cujo sentido da vida é o dinheiro).

Eu poderia passar horas e horas, escrevendo linhas e linahs sobre diferentes estilos. Mas deixei por último aqueles com os quais me identifico mais, e que mais admiro.

Existem pessoas cujo sentido da vida é mudá-la, por meio de ideais.

São pessoas que não se apoiam em uma única base de sustentação, mas que tentam a cada dia construir novas maneiras de modificar a realidade alienada imposta pela sociedade. Pessoas que criam sonhos coletivos, utópicos talvez, mas que podem trazer bons resultados no futuro.

Essas pessoas, claro, não vivem por inércia. Elas regulam a intensidade das ações de acordo com a necessidade de cada situação, e buscam alcançar o bem comum.

Você é uma delas, pretende ser, ou quer passar o resto da vida se arrependendo pelo que deveria ter feito?

sábado, 23 de abril de 2011

Lidando com não-mocinhos

Há alguns anos venho fomentando uma crítica muito particular a respeito da pena de morte, mas até então minha unica fonte de informações era um filme, que mesmo após alguns anos ainda me faz refletir.

Era uma sexta feira, e possivelmente já passava das onze horas da noite. Deitei em minha cama e resolvi ligar a televisão. O filme já havia começado, mas mesmo assim as cenas prenderam minha atenção. "Os últimos passos de um homem" - (Dead Man Walking/1995) narra a história de Matthew Poncelet, brilhantemente interpretado por Sean Penn. O título sugestivo talvez faça pensar que a história é sobre algum bom homem, injustiçado por algum vilão malvado.

E é justamente o fato de a história não ser tão previsivel que a torna tão cativante.

Sempre defendi a ideia de que não existem essas caricaturas de vilões e mocinhos, e que todos estamos sempre sujeitos as mais indignas sensações. Não sou nenhuma defensora de criminosos, mas creio que nenhum ser humano é passível de fraquezas e defeitos.

Matthew Poncelet se vê prestes a ser executado com uma injeção letal, acusado por ter assassinado dois adolescentes. Sua última e desesperada tentativa é conseguir a ajuda da freira Helen Prejean, interpretada pela atriz Susan Sarandon.

Helen Prejean nasceu em Baton Rouge, em 21 de abril de 1939, e é uma freira católica estadunidense. O filme é baseado em fatos reais, já que a freira trocou correspondências com Elmo Patrick Sonnier, sentenciado à cadeira elétrica por assassinato.

Após vivenciar de perto diversas histórias, de diversos homens que contavam os últimos momentos de suas vidas, Helen se tornou uma ativista contra a pena de morte e fundou a organização não-governamental Survive.

Até assistir o filme, eu particularmente nunca havia refletido sobre este assunto. Talvez porque no Brasil sejamos contemplados com uma Constituição que defende o direito a vida.

Não defendo a não punição, ou a imparcialidade. Tenho consciência de que pessoas que agridem, que roubam ou que cometem outros tipos de delitos devam se afastar do convívio social - mas seria a morte a solução dos problemas? Que tipo de vantagem isso traria para nossa sociedade?

Se tomarmos como base um sistema corrupto, onde os detidos são isolados em meios que estimulam ainda mais os piores instintos que possuem ou que simplesmente os ignoram, sem oferecer uma maneira de se recuperarem e se tornarem pessoas produtivas para sua comunidade... realmente, a pena de morte se mostra como uma solução plausível para o corte de gastos públicos, para a "eliminação do mal pela raiz".

Mas e se tomarmos como base um sistema eficiente, onde os detidos tenham acompanhamento psicológico, educacional e, porque não, religioso? Onde eles possam, ao invés de se tornarem gastos públicos, trabalharem e produzirem bens?

Pode parecer utópico. Claro, infelizmente ainda estamos presos àquele sistema corrupto e, porque não, fácil. Ora, é muito mais fácil manter tudo como está, e simplesmente deixar que a cada dia mais pessoas sejam presas, e soltas, e presas novamente.

Quantas "passagens" pela prisão uma pessoa tem que ter, até que o Estado perceba que esta não é a melhor maneira de lidar com pessoas?

Para ajudar a questionar a respeito deste tema, tive o prazer de assistir a peça "Doze homens e uma sentença", que também aborda o assunto sobre parâmetros diferentes dos quais estamos acostumados a lidar.

Aqueles que estiverem dispostos, aceito argumentos que me façam mudar de ideia...

domingo, 13 de março de 2011

Álbum de figurinhas

Ao longo da minha vida tenho criado várias teorias, e costumo compartilha-las com os mais próximos. Uma delas é sobre o Álbum de Figurinhas.

Adoro analogias e metáforas, e esta é particularmente uma das minhas favoritas.

Quando criança, eu adorava figurinhas e, consequentemente, seus respectivos álbuns. Tive álbuns diversos - Rei Leão, Pokemón, Copa do Mundo... - mas creio que nunca completei nenhum deles. Isso nunca me frustrou, porque sempre havia um novo álbum a ser completado, e rapidamente eu esquecia o antigo. Às vezes o encontrava no fundo de uma gaveta velha, folheava suas páginas, e guardava em seguida.

Infelizmente, minha vida costuma ser semelhante ao Álbum de figurinhas.

Sempre acreditei que as pessoas fossem insubstituíveis, assim como as figurinhas.

Quando as conquistamos e colocamos em seu espaço reservado, as contemplamos e nos orgulhamos de tê-las ali. Exibimos aos outros, esperando ouvir elogios. Claro, damos atenção privilegiada às especiais - aquelas que foram obtidas com maior dificuldade, nem sempre as mais bonitas... - e nos enfadamos com as repetidas. Trocamos. Destrocamos. Mas nunca pelas mesmas, porque apesar de parecidas, elas não são efetivamente iguais.

Por fim, trocamos de álbum.

Sempre tive dificuldade em manter mais de um álbum; ou concentrava todos os meus esforços em manter um, ou não tinha nenhum. Infelizmente, meu ciclo de amizades também era assim.

Admirava aqueles que conseguiam manter contato com pessoas durante tanto tempo seguido! Eventualmente, eu conseguia entrar em contato com amigos distantes - mas em seguida, eles desapareciam outra vez! Como uma rápida folheada em álbum antigos, para matar a saudade...

Por mais difícil que seja admitir a metáfora, ela existe: sim, eu crio Álbuns de Figurinhas. Gostaria muito de tê-los completado, de admirar minhas figurinhas com mais frequência... Mas é tão difícil!

Agora estou montando um novo Álbum. Ao longo do tempo, aperfeiçoei minhas técnicas. Estou tentando mantê-lo vivo, e não pretendo deixar que o tempo o faça perder sua importância. Se possível, trarei algumas figurinhas antigas para colar nele...